Juros e câmbio: como SELIC afeta dólar?

Um ponto a ser discutido é que o câmbio interfere na dinâmica de preços do nosso mercado interno

Recentemente, muitas questões a respeito de juros e inflação estão sendo abordadas nos jornais, portais e discussões da área da economia. Um ponto a ser discutido é que, considerando as questões da demanda agregada, o câmbio interfere na dinâmica de preços do nosso mercado interno. Em resumo, se o câmbio deprecia (Real desvalorizado e/ou Dólar valorizado) torna-se mais caro para os importadores brasileiros comprarem os produtos de fora do país, já que toda commodity é cotada na moeda americana.

Tendo como certa essa relação e sabendo que nosso mercado interno precisa de importações para suprir sua demanda, vamos entender de maneira simples o conceito de repasse cambial ou, para simplificar, como a dinâmica juros e câmbio afeta o seu cotidiano. 

Na última coluna expliquei que o Brasil adota um regime de câmbio flutuante e que, nessa dinâmica, a oferta de dólares no mercado interno define o preço da moeda americana em reais (USD/BRL) (ler aqui).  Logo, é correto concluir que se a rentabilidade dos juros brasileiros crescem, o aporte de capital estrangeiro (USD) pode seguir esse mesmo “fluxo” de investimento direto ou indireto. Em termos simples, quando os juros básicos brasileiros têm taxas anuais significativamente maiores que as taxas de juros dos países desenvolvidos, torna-se rentável aportar capital em dólares no nosso país.

De acordo com Serrano (2010, pág 65), esse comportamento nos permite concluir que,“na prática, o sistema funciona da seguinte maneira: aumentos da taxa de juros valorizam a taxa de câmbio nominal”. Novamente, trazendo para um linguagem simples, a SELIC pode ser elevada como uma medida de controle da disparada do dólar, sendo o inverso igualmente verdadeiro.

O termo “diferencial de juros” é utilizado para caracterizar esse fenômeno, no qual são comparadas as taxas básicas do Brasil com a de outros países. Observe no gráfico, que na medida que o diferencial (eixo esquerdo) sobe há uma valorização do câmbio (eixo direito): 

                     

Fonte: SERRANO, 2010

Um dos pontos de influência dessa mecânica entre juros e câmbio no Brasil, é a questão do risco de solvência envolvido na oferta de títulos públicos. Nosso país ficou conhecido por diversas reformas monetárias e séries históricas de hiperinflação que, em alguns casos, levaram ao colapso do pagamento da dívida pública e o calote aos credores.

Com esse grau de “inadimplência” e certo grau de irresponsabilidade histórica com a estabilidade monetária, são necessárias taxas de juros maiores, precificando mais risco, para gerar atratividade aos títulos brasileiros. Uma maneira de exemplificar o conceito, é mostrar como a taxa de juros nominal e real em queda durante a pandemia elevaram o grau de desvalorização cambial, mesmo com as taxas reais globais em patamares menores do que a nossa.

Com isso, podemos entender e resumir as duas últimas colunas da seguinte maneira: A taxa de câmbio nominal é definida pela oferta de dólares no nosso mercado interno, ponderada por intervenções pontuais do BCB no mercado de moeda estrangeira, controlando sua volatilidade. Tendo esse fluxo como padrão, o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA define maior ou menor atratividade dos títulos públicos brasileiros em relação aos americanos (FED bonds, etc), alterando a valorização ou desvalorização cambial.

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