SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os contratos de juros futuros voltaram a acelerar nesta terça-feira (26), na véspera da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) sobre a Selic.
A taxa DI (Depósitos Interfinanceiros) para janeiro de 2023, que na abertura do mercado estava em 11,13% ao ano, avançou 0,5 ponto percentual durante o dia e, às 17h19, já estava em 11,66%.
A alta é semelhante aos picos registrados na semana passada -entre 0,5 e 0,6 p.p.-, quando a decisão do governo de driblar o teto de gastos ampliou a percepção de investidores sobre o risco do país.
Negociado exclusivamente entre instituições financeiras, o depósito interfinanceiro é um título privado de renda fixa que auxilia no fechamento de caixa dos bancos. As negociações entre os bancos geram a taxa DI, referência para a maior parte dos títulos de renda fixa oferecidos ao investidor.
A alta desta terça foi estimulada pela inflação. O IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial do país, subiu 1,20%, em outubro, segundo o IBGE. O índice, divulgado nesta terça, ficou acima das projeções do mercado, de 1%. Em 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 10,34%.
Com mais inflação, aumentam as expectativas de alta da Selic nesta quarta-feira (27) para além do 1 ponto percentual que o Banco Central vem praticando nas últimas reuniões. Há analistas que já falam em alta de 2 pontos percentuais, para 8,25%. Hoje a Selic está em 6,25%. Segundo a Bloomberg, a previsão segundo mediana com analistas do mercado está em alta de 1,85 p.p.
A incerteza sobre o controle dos gastos do governo em 2022 também pressiona, segundo Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
“Embora o mercado de juros não seja o responsável para dar o preço do risco fiscal do país, ele é afetado por isso, uma vez que o investidor exige receber mais do Tesouro se o risco de rolagem da dívida ao longo do tempo for maior”, diz Tingas.
“O fator-chave para a alta dos juros, porém, é a inflação, porque esse é o instrumento à mão do Banco Central para controlar a alta nos preços”, afirma.
Até o início da semana passada, antes da revelação da intenção do governo de furar o teto de gastos, a aposta do mercado era para uma alta de 1 ponto na taxa de juros, para 7,25%.
O Credit Suisse espera alta de 1,5 p.p. na reunião desta quarta, para 7,75% ao ano, e que o BC leve a Selic para até 11,5% em 2022, devido à pressão inflacionária.
Em relatório divulgado nesta terça-feira, a instituição também aumentou suas estimativas para a alta do IPCA (inflação oficial) neste ano e no próximo, a 9,8% e 5,8%, respectivamente. Há quatro dias, as projeções eram de avanços de 9,1% e 5,5%.
Segundo o Credit Suisse, as revisões vêm depois de reajuste nos preços dos combustíveis pela Petrobras e do salto bem maior do que o esperado do IPCA-15 em outubro.
A inflação em alta e persistente afeta diversos países devido à escassez de produtos e insumos devido à ruptura nas cadeias de abastecimento durante a pandemia, situação agravada por uma crise energética que vem pressionando os preços dos derivados de petróleo em um momento em que o mundo tenta retomar o crescimento econômico com o enfraquecimento da pandemia nas principais economias globais.
No Brasil, a pressão inflacionária é agravada por equívocos do governo em sua política fiscal. O sinal de descontrole nos gastos agrava a percepção de risco do país e, consequentemente, promove valorização do dólar frente ao real, gerando ainda mais inflação, segundo Nicola Tingas, da Acrefi.
“A força maior da inflação vem de fora, mas o governo também é culpado”, diz.