A elevação das taxas de juros no Brasil tem trazido um benefício considerável para a moeda brasileira, o real, em meio a um cenário norte-americano marcado pelo início de afrouxamento na política monetária.
De acordo com Bruno Corano, economista e idealizador do Imigre América, o Brasil está colhendo os frutos de juros mais elevados, principalmente ao conseguir proteger sua moeda e manter o interesse de investidores internacionais.
“A economia brasileira, sem dúvida nenhuma, se beneficia com os juros mais altos nesse momento porque é um instrumento de proteção contra a inflação e um instrumento de atração para investidores internacionais”, afirma Corano.
Na última semana, o mercado presenciou a ‘superquarta’, momento em que os Bancos Centrais do Brasil e dos EUA, definem a taxa de juros nos respectivos países.
Por aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu iniciar o ciclo de aperto monetário com a alta da Selic. Já nos EUA a realidade é o oposto, com o corte nos juros feito pelo Fomc (Federal Open Market Committee), o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed (Federal Reserve).
Proteção contra a inflação e atração de capital
O aumento dos juros serve como uma dupla ferramenta: combate à inflação e atrativo para o capital estrangeiro. A elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central impede que o câmbio se desvalorize significativamente, o que protegeria o real de uma pressão externa mais intensa.
Além disso, os altos rendimentos oferecidos pela economia brasileira tornam o país mais atrativo para investidores internacionais que buscam retornos elevados. Segundo Corano, “os juros mais altos protegem que o câmbio seja pressionado, faz com que o nível de interesse dos investidores internacionais não caia, mesmo que não cresça.”
Contudo, o especialista alerta que o cenário internacional cria uma competição feroz entre mercados.
Embora o Brasil tenha juros elevados, os EUA, com sua forte economia e recentes sinais de queda nas taxas de juros, acabam atraindo uma grande fatia dos investidores globais. “A queda da taxa de juros americana é uma sinalização de que o mercado de renda variável externo deve seguir cada vez mais aquecido”, explica Corano.
Isso faz com que, mesmo com juros altos, o Brasil, por ser um mercado emergente e ter um rating de especulação, perca espaço para os EUA.
Dólar em queda moderada
Com a expectativa de juros altos no Brasil, o dólar já vem mostrando uma leve desvalorização. Segundo Corano, essa tendência de queda, ainda que lenta, tem ocorrido de forma contínua.
“Se a gente observar, só com a expectativa de que os juros iriam subir e depois da publicação, o dólar vem cedendo. Suavemente, porque são muitos outros fatores que interferem no câmbio”, ressalta o economista.
A diminuição da cotação do dólar frente ao real é um reflexo direto de uma maior atratividade da moeda brasileira, mas também da perspectiva de estabilização econômica proporcionada pelos juros altos.
No entanto, outros fatores, como o cenário político e fiscal brasileiro, ainda limitam uma queda mais acentuada da moeda americana.
Entrada modesta de capital estrangeiro e desafios internos
Um dos possíveis desdobramentos do aumento dos juros seria o crescimento significativo da entrada de capital estrangeiro no país.
No entanto, Corano observa que, até o momento, essa movimentação ainda é modesta. “A entrada de capital estrangeiro é muito modesta, quase insignificante”, pontua. Caso ocorra uma maior injeção de capital estrangeiro, o impacto seria positivo nos mercados acionários, empurrando a bolsa para cima.
Entretanto, o economista destaca que os problemas internos do Brasil acabam ofuscando os benefícios dessa entrada de capital.
“Os problemas internos, eu acho que continuam sendo muito maiores e isso acaba ocultando, abafando o efeito da entrada do capital externo”, conclui.
A economia local, que enfrenta desafios como baixa produtividade e um cenário fiscal delicado, ainda sofre com o desaquecimento, o que impede uma recuperação mais robusta.
Perspectivas para o real
Apesar dos desafios mencionados, o real tem a chance de se beneficiar no médio prazo, principalmente se o ciclo de cortes de juros esperado para o próximo ano for implementado de forma gradual e coordenada com a política fiscal.
Juros altos continuam sendo um “remédio inevitável”, como aponta Corano, dado o contexto atual da economia brasileira e sua capacidade produtiva.
Portanto, enquanto os juros elevados ajudam a segurar o valor do real e atrair capital estrangeiro, o Brasil ainda precisa superar seus entraves internos para que os efeitos positivos dessa política monetária sejam mais amplamente sentidos pela economia como um todo.