SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A maioria da população (68%) é favorável ao aumento dos tributos de produtos de tabaco como forma de incentivar o fumante a parar de fumar. Grande parte dos brasileiros (71,5%) também defende que as empresas fabricantes e cigarro devam ressarcir o SUS pelos custos das doenças relacionadas ao tabagismo.
Os dados estão em uma pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pela ACT Promoção da Saúde, que deve ser divulgada na tarde desta quinta (26), durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados sobre o impacto do uso do cigarro na saúde e as medidas necessárias para prevenir o tabagismo.
Foram entrevistadas 1.985 pessoas de 18 anos ou mais, sendo a maioria economicamente ativa, entre os dias 10 e 20 de julho de 2021, de todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Para 54% delas, o cigarro mais caro ajuda o tabagista a parar de fumar e evita que os jovens comecem a experimentar cigarros. A aprovação às medidas de controle do tabagismo é maior entre os mais escolarizados, moradores das regiões metropolitanas e integrantes das classes A/B.
?É bem importante esse apoio da população sobre uma maior tributação de produtos nocivos à saúde. O tabaco que causa muitos danos, não pode estar na mesma categoria do arroz e do feijão, por exemplo”, diz Mônica Andreis, diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde.
Segundo ela, desde 2016 não há ajuste no preço dos cigarros e, especialmente durante a pandemia, estudos mostram que houve aumento do consumo do tabaco, depois de um período de estagnação e queda.
“A política tributária é considerada muito efetiva não só no Brasil como no mundo todo. Se você tem um produto com um preço muito baixo, acaba facilitando o consumo e a iniciação do jovem.” O preço mínimo do maço de cigarro é de R$ 5. Nos EUA, é de cerca de US$ 10.
A proposta defendida pela ACT de outras organizações é que esse eventual aumento de tributos seja revertido para saúde pública, especialmente para os programas de controle e prevenção e tratamento do tabagismo.
A pesquisa Datafolha também ouviu os entrevistados sobre os cigarros eletrônicos. Embora 72% já tenham ouvido falar sobre esses dispositivos, poucos são os que fazem uso diário: 0,22%; 2,8% usam às vezes e 6% já usaram, mas não o fazem mais.
A grande maioria dos entrevistados (84%) acreditam que os dispositivos eletrônicos são uma invenção da indústria de tabaco para conquistar novos clientes e 78,3% acreditam que fazem com que as pessoas mudem de produto, mas continuem fumantes.
Para 67,7% dos entrevistados, esses dispositivos não devem ser liberados, pois entendem que o país não precisa ter novos produtos de tabaco no mercado.
Um quinto (21%) também defende que os cigarros eletrônicos não sejam liberados até que se prove seu impacto na saúde e na iniciação por jovens. Já 11,5% consideram que a comercialização deva ser liberada no país.
Há consenso na área de saúde de que a liberação no mercado brasileiro colocaria em risco o bem-sucedido programa de controle do tabagismo, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, e que conseguiu reduzir o número de fumantes no país, de 15,6%, em 2006, para 9,3%, em 2018, segundo o Ministério da Saúde.
Há uma regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que proíbe a comercialização e propaganda desses produtos. Os fabricantes, por sua vez, pressionam a Anvisa para a liberação, alegam que eles teriam risco reduzido por não haver combustão e serem destinado apenas a adultos fumantes que não querem ou não conseguem parar de fumar.
No entanto, pesquisas independentes mostram que esses produtos contêm substâncias altamente tóxicas e foram responsáveis pelo aumento no consumo entre jovens nos países em que eles podem ser comercializados.
Segundo Mônica Andreis, a maior parte desses dispositivos contém nicotina, o princípio ativo responsável pela dependência química do fumante, e estudos têm mostrado que não ajudam na cessação, muitos fumantes continuam fumando e também fazendo uso dos vaporizadores.