SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após reformular seu canal de vendas de vestuário, o Magazine Luiza lança nesta sexta-feira (22) a Vista Magalu, marca própria de moda da companhia que já detém Netshoes, Zattini e Época Cosméticos. Não se trata, porém, de uma etiqueta com viés definido de estilo, como acontece nas grifes premium dos grupos brasileiros, nem se encaixa no padrão “fast fashion” de atender as demandas do cliente para todas as ocasiões, do trabalho à festa.
O propósito da marca que tem a ex-Zara à frente da direção de estilo, Aneliza Paiva, abocanha o abismo do meio, que geralmente é uma parte pequena das coleções das marcas, de básicos atualizados.
Ou seja, a intenção não é oferecer apenas a camiseta lisa ou o jeans sem lavagem, mas sim uma gama que vai dos tops de algodão e do look esportivo de moletom até o vestido tubo com ombros ampliados e as peças simples com recortes fora do escopo da modelagem padronizada.
Dos 200 modelos que entram hoje na plataforma, 70% se encaixam nesse padrão, que será mantido de forma permanente no portfólio mas terão atualizações constantes a partir da análise nas redes sociais do time de oito pessoas dedicadas a produzir as coleções.
Todos os meses, a marca incluirá uma média de outros 20 modelos, em coleções-cápsula que abrangem desde tendências passageiras até parcerias com marcas e coletivos de pequenos produtores.
Segundo a diretora de moda e beleza da varejista, Silvia Machado, o ponto nevrálgico da nova empreitada é suprir a falta de variáveis disponíveis para corpos e gêneros diferentes, mas com um preço realmente acessível. A grade, nesse sentido, é composta de itens do PP ao G4, com valor de entrada na faixa de R$ 19, para um top, até crochês de R$ 299.
“Queremos ser uma marca mais diversa e inclusiva, porque mesmo que esse discurso tenha ganhado mais força hoje em dia, as marcas não necessariamente oferecem opções que valorizem a individualidade, adotando a visão que, a depender do corpo, ele tem de estar escondido”, diz.
A primeira leva de produtos é inspirada na roupa que remete aos dias de fuga impostos pela pandemia, com estilo vinculado à roupa confortável usada nas viagens ao campo.
Nas etiquetas, haverá o número do disque denúncia, que se conecta com as práticas de impacto social e de combate à violência doméstica, encampadas pela presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano. Estuda-se ainda reverter parte da renda para projetos nesse campo.
A produção da Vista Magalu não será vertical e o processo de manufatura das peças ficará a cargo de fábricas de São Paulo e do Sul do país. O que não significa um entrave do ponto de vista logístico, porque o modelo difere dos grandes magazines que precisam colocar nas araras respostas à flutuação das tendências semanalmente.
Outro pilar da nova marca seria a aproximação com produtores e artistas locais de diferentes regiões, algo que, se posto em prática, poderá imprimir um retrato mais abrangente sobre a produção de moda brasileira, descentralizada do eixo Sul-Sudeste e definitiva para impulsionar a visão de “brasilidade” pretendida pelo Magalu.
A escolha de se lançar num varejo saturado de grifes de moda, Machado afirma, parte da ideia de ela ser um complemento ao próprio portfólio do marketplace Mundo Moda, composto por uma seleção feita pelas marcas que estão dentro da plataforma.
“Não queremos priorizar a marca em relação aos outros ‘sellers’, mas chamar a atenção das pessoas de que o Magalu também tem moda, um segmento muito movido a comportamento e com uma venda diferente se comparada à dos itens de tecnologia, por exemplo”, explica.
O plano também tem a ver com o fato de que, embora o segmento de moda e beleza figure no quinto lugar da lista de setores com maior tráfego da plataforma, ele não está na mesma colocação em se tratando do número de vendas -a companhia não divulga por categoria a sua receita, que encerrou o segundo trimestre deste ano com R$ 9,01 bilhões e lucro líquido de R$ 95,5 milhões.
Mesmo projetada como uma etiqueta diferente das disponíveis do mercado e cuja primeira campanha parece remeter aos primórdios da coloridíssima United Colors of Benetton no auge dos 1990, a Vista Magalu não estará sozinha na briga para ser estandarte dos básicos com informação de moda.
É possível que sua principal concorrente nessa seara seja a Hering, que após ser vendida em abril ao grupo Soma, dono da Farm, Animale, Cris Barros e NV, por R$ 5,1 bilhões, deve passar por um reposicionamento de imagem já no próximo ano.
Na ocasião do fechamento do negócio, os executivos do grupo disseram, em reunião com acionistas, que uma das estratégias para a marca é aderir ao esquema de colaborações e atualizar o verniz básico, maior ativo da etiqueta, para lhe conferir um olhar contemporâneo de moda.
Hoje, na indústria, lê-se a ideia de contemporaneidade pelo prisma da moda urbana, uma das colunas da nova fase de outro conglomerado, o grupo Arezzo, proprietário da marca homônima e do braço de lifestyle AR&Co., que inclui a Reserva e uma recente aquisição, a BAW Clothing.
Nativa digital como é a Vista Magalu -ainda que, no próximo ano, os pontos do Magazine Luiza já possam receber araras para que o cliente conheça as peças ao vivo-, a BAW se destaca no mercado pelo estilo descomplicado de seus básicos com matéria-prima de qualidade. A diferença está no preço, com um tíquete que transita na faixa dos R$ 250.
Não são esperados movimentos agressivos de compra de outras marcas por parte do Magalu. Novas aquisições da vertical de moda só devem acontecer, segundo Silvia Machado, “se fizerem sentido para o ecossistema” e para o “propósito da companhia de digitalizar o varejo brasileiro”. “Não está nos planos ser uma ‘house of brands’.”