Marcação a mercado na renda fixa? Saiba o que muda nos produtos

Distribuidores de investimentos, como bancos e corretoras, vão precisar “marcar a mercado” o valor de alguns produtos de renda fixa

Alguns protudos de investimentos em renda fixa sofrerão mudanças importantes para o investidor. Distribuidores de investimentos, como bancos e corretoras, vão precisar “marcar a mercado” o valor de alguns títulos, como debêntures (incentivadas ou não), CRIs, CRAs e títulos públicos adquiridos via tesouraria. Mas o que significa e como funcionará esse novo processo de marcação a mercado? 

Segundo Leonardo Souza, especialista em Renda Fixa da SVN Investimentos, a nova mudança irá permitir que investidores pessoa física consigam acompanhar, dia a dia, quanto vale o patrimônio que adquiriram. 

“Os títulos eram marcados na curva, ou seja, que a evolução da rentabilidade é por meio da taxa de compra. A partir de janeiro, será marcado a mercado, ou seja, aos preços da Anbima. Essa mudança visa trazer mais transparência para o investidor, que saberá a posição atual, caso queira liquidar o título no dia. É importante ressaltar que, no vencimento do título, o valor final será igual em ambos os processos”, disse Souza, head de renda fixa da SVN Investimentos. 

Como um investimento em renda fixa tradicional, o investidor receberá a taxa de remuneração que foi contratada quando o mesmo adquiriu ao final do vencimento. A mudança é que ele poderá acompanhar os preços ao longo do período, tendo a possibilidade de sair antecipadamente com um valor maior (ou menor) que o acordado previamente na contratação do título.

“Em contrapartida, poderá gerar certa confusão aos investidores, pois alguns títulos marcarão negativamente, porém não indicará que o cliente perderá o dinheiro, apenas demonstrará a rentabilidade do dia”, salientou o especialista.

Esse processo é uma atualização do valor desses papéis segundo os preços pelos quais estão sendo negociados no mercado. 

“Esse movimento aconteceu com os fundos de renda fixa há 20 anos, onde os títulos que estavam nos fundos eram marcados na curva e passaram a ser marcados a mercado”, lembrou o especialista. 

A regra foi estabelecida pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) no início deste ano, e bancos e corretoras terão até o fim deste ano para adaptar seus processos e informar seus clientes a respeito da nova sistemática.

“Quando o PU [preço unitário] é marcado na curva, o cálculo do preço diário do ativo é com base na taxa de compra, que é a taxa que o cliente comprou o ativo. Já no preço marcado a mercado, o PU do ativo é com base no preço de referência a mercado, e será utilizado o preço de referência da Anbima”, explicou o especialista da SVN Investimentos. 

O novo padrão começará a valer a partir de 2 de janeiro de 2023. “O objetivo é que tenha padronização para o investidor acompanhar as suas aplicações, para que ele possa fazer uma comparação mais transparente, se tiver conta em mais de um lugar”, afirmou Luciane Effting, vice-presidente do Fórum de Distribuição da Anbima.

Quais produtos de renda fixa serão alterados?

Papéis como debêntures (incentivadas ou não), CRIs, CRAs e títulos públicos adquiridos via tesouraria (e não pelo Tesouro Direto) passarão a ser marcados a mercado por bancos e corretoras nas carteiras dos investidores pessoas físicas. 

Ou seja, os extratos de investimentos apresentarão os valores atualizados desses ativos, de acordo com os preços pelos quais estão sendo negociados no mercado.

No entanto, não serão todos os títulos que estarão nesta mudança. Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), LCIs (Letras de Crédito e Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), seguirão com a marcação na curva, processo como é feito atualmente. 

“Esses títulos não são negociados diretamente via mercado secundário. Eles são via tesouraria de cada banco, por isso é difícil termos uma precificação de cada um”, afirmou Souza. 

Já no caso de CRIs, CRAs e debêntures, a empresa emissora não recompra o papel quando o investidor deseja. Ele precisa encontrar outro investidor disposto a pagar pelo papel no mercado secundário caso queira se desfazer dele.

Investidores que marcação a mercado será aplicada

De acordo com a nova regra da Anbima, os investimentos feitos por pessoas físicas precisarão ser marcados a mercado, e não mais na curva. 

Entretanto, os investidores qualificados – que contam com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras –  e profissionais – acima de R$ 10 milhões – poderão optar por marcação a mercado ou na curva. Caso escolham a segunda opção, terão que formalizar esse pedido junto à corretora em que investe. 

“Os investidores qualificados e profissionais já entendem esse conceito de marcação a mercado, por isso saberão optar pela opção que lhe for a melhor, já que conhecem e estão ambientados com o mercado”, afirmou Souza. 

A norma da Anbima determina que as instituições financeiras devem marcar os papéis a mercado ao menos uma vez por mês. No entanto, segundo o InfoMoney, a maioria das corretoras afirmaram que pretendem calcular os preços diariamente. 

Ainda de acordo com o especialista, o mercado secundário pode ser beneficiado com a possibilidade de saída antecipada. Segundo ele, a mudança pode impulsionar as negociações de títulos como CRIs e CRAs. 

“Nos últimos anos vimos aumentar as emissões de debêntures, CRIs e CRAs, principalmente pela menor utilização de recurso que conseguiam por meio de bancos públicos e de desenvolvimento. Com a marcação a mercado, deve aumentar o volume de negociação, pois os preços dos títulos refletirão os preços de tela, o que simplificará para o investidor saber se está tendo ganho ou perda nessas aplicações”, explicou Souza. 

Questionada se os preços serão marcados a mercado de maneira retroativa no histórico dos investimentos, a Anbima afirma que a regra “poderá ser aplicada a partir da data de início da vigência da regra, que é 2 de janeiro de 2023, para todos os ativos da carteira dos clientes que estejam no escopo das normas”. “Os investimentos feitos anteriormente serão reprocessados pelas corretoras, e a partir de janeiro serão marcados a mercado”, concluiu Leonardo Souza.