Na análise de Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, a inflação no Brasil este ano deve ir além do limite de tolerância da meta estabelecida pelo BC (Banco Central) e chegar ao patamar de 5% ou mais.
Em entrevista exclusiva ao BP Money, o economista ressaltou que os fatores determinantes para a inflação precisam ser observados de perto. Um desses fatores seria a atividade econômica “muito forte”, deixando margem para que pressões de custos sejam repassadas para preço.
“Há perspectivas de aumento de impostos para as empresas, a taxa de câmbio se desvalorizou, os salários estão subindo, tudo isso é custo para as empresas. Então, eu diria que ao redor desses 4,5% [onde a inflação está atualmente] é mais provável que a gente tenha uma inflação para cima, digamos 5%, 5 e pouco, do que mais perto dos 3%, que é a meta”, afirmou.
Megale alertou que o BC precisa estar atento nesse sentido, visto que, com a posição ao limite de tolerância, uma inflação mais alta sugere um desequilíbrio econômico.
“Não só o Banco Central tem que prestar atenção e reagir, como está reagindo, subindo a taxa de juros, mas também a questão das despesas públicas são importantes, porque as despesas públicas são outro fator que impulsionam a demanda interna”, disse Megale.
“Precisamos reequilibrar a oferta e a demanda, dar uma esfriadinha na demanda. Não só os juros têm que subir um pouco, mas também os estímulos fiscais tem que ser mais equilibrados também”, apontou.
Apesar disso, o economista-chefe da XP destacou que a inflação atual não está historicamente alta, pois a média histórica é entre 6% e 6,5%. Para ele, a meta de 3% do BC é “internacionalmente mais adequada”, pois as economias emergentes mais estáveis do mundo têm o mesmo objetivo.
Megale: juros mais altos tem sido ponto de equilíbrio para a economia e inflação
Na última reunião realizada em setembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC deu início ao ciclo de alta da Selic (taxa básica de juros), ao passo que nos EUA o Fed (Federal Reserve) decidiu cortar a taxa. A projeção atual do mercado é que a Selic seja elevada até a casa dos 12%, ou mais, uma avaliação com a qual Megale concorda.
“O que o Banco Central tem falado, e a análise é essa mesmo, é que esses juros não estão fazendo com que a economia brasileira desacelere, ou entre em crise. Pelo contrário, os juros chegaram a 13,75% e a economia cresceu muito mais do que o esperado, justamente porque existem diversos outros estímulos ao crescimento econômico presentes”, afirmou.
Na visão do economista-chefe da XP, os juros altos têm funcionado quase como um ponto de equilíbrio.
“Tem muitos estímulos fiscais, parafiscais, que a gente chama, que são estímulos à economia através de bancos e fundos públicos, não diretamente através dos gastos do governo. O mercado de crédito está superaquecido, o mercado de dívida corporativa também está superaquecido, a gente está vendo empresas emitindo com bastante intensidade, isso torna as condições da economia mais líquidas”, disse Megale.
Diante dessa perspectiva quanto à concessão de crédito, Megale afirmou que não vê riscos para o mercado, visto que as condições de empréstimo estão bem equilibradas tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.
“[O cenário está com] baixa inadimplência, empresas com caixa, famílias com renda para honrar os seus pagamentos. Então, não é algo que deve provocar uma derrapada relevante na economia e sim uma desaceleração”, frisou Megale.