O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) se reúne nesta quarta-feira (31), sob forte expectativa de manutenção da taxa Selic em 15% ao ano.
Embora o consenso entre economistas e analistas de mercado seja unânime quanto à estabilidade dos juros, o encontro ocorre em meio a um cenário mais conturbado, marcado pela escalada das tensões comerciais entre Brasil e EUA e por incertezas fiscais no ambiente doméstico.
“A expectativa do mercado é de manutenção. Isso já está, de certa forma, precificado, então qualquer corte ou nova alta seria uma surpresa. No entanto, um novo elemento surgiu nesta reunião: as tarifas anunciadas pelos EUA. O mercado ainda busca entender como o Banco Central vai interpretar esse cenário”, avalia Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.
Cenário atual limita espaço para sinalizações do BC
Sobre o comportamento do BC (Banco Central) brasileiro diante do atual quadro, o economista Bruno Cotrim, da Top Gain, destaca que, nesse comunicado, não se acredita que haverá qualquer guidance sobre as próximas reuniões, nem indicativos de uma possível queda.
“E também não acredito que o BC fará alguma sinalização de queda no comunicado diante de todo esse cenário”, completa.
O especialista afirmou que não acredita que o Banco Central tomará a decisão de cortar os juros antes que a inflação se aproxime do teto da meta, de 4,5%, destacando os riscos de estimular o consumo e pressionar ainda mais os preços.
“Não vejo o Banco Central tomar a decisão de cortar os juros até essa inflação chegar o mais próximo possível do teto da banda, que é 4,5%. Porque ao cortar a taxa de juros, vamos ter um incentivo de fluxo monetário na economia, com empréstimos e tudo mais. Consequentemente, isso também atinge o varejo, que aumenta o consumo, elevando a inflação. E esses pontos são essenciais para tentar ancorar a inflação, principalmente a questão do fluxo monetário”, afirma.
Impacto das tarifas dos EUA e tensões comerciais
Além do ambiente interno, o Copom terá de considerar os efeitos das tarifas comerciais anunciadas pelo governo dos EUA, que incidem sobre produtos brasileiros e elevam o risco para setores exportadores.
Fernando Gonçalves, sócio da The Hill Capital, aponta que a pressão externa adiciona incerteza e pode afastar investidores:
“Agora mais no curto prazo temos a questão das tarifas do Trump. O Brasil está na mira dele e temos até final dessa semana para definir se isso vai ser postergado ou não. Isso gerou um grau de incerteza muito grande e acaba afastando investidores do Brasil”.
Fernando também ressalta que a questão fiscal brasileira é uma preocupação antiga, que já vinha sendo discutida desde o final do ano passado. Com as eleições do próximo ano, ele aponta a possibilidade de aumento nos gastos públicos, um fator que mantém o mercado em alerta.