BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Por lá ainda são vistos alguns cantos sujos cheios de sucata de máquinas utilizadas por gráficas, tornearias e serralherias que funcionaram no local durante parte da segunda metade do século passado.
Mas é só por enquanto.
Projeto de expansão que prevê a reforma da área que abriga cerca de 300 lojas –a maioria abandonada há décadas– tenta consolidar o Mercado Novo de Belo Horizonte como um dos principais pontos turísticos da capital mineira.
Ao mesmo tempo, porém, o projeto traz incertezas para os poucos que conseguiram se manter no local trabalhando com impressão ou produção de objetos de metal.
Um mapa do terceiro andar feito pela administração do Mercado Novo, responsável pelo projeto de expansão, mostra que a área, no passado ocupada por máquinas pesadas de impressão e transformação do ferro, dará lugar à de galerias de arte, uma loja de artigos indígenas, brechós, ateliês e uma produtora de filmes. A previsão é que tudo esteja pronto em fevereiro.
Existe a intenção, porém, de não deixar para trás o que o prédio já abrigou. Duas empresas que ainda resistem no terceiro piso, uma do setor de serralheria e uma de tornearia, pelo menos, seguirão funcionando na área de expansão do Mercado Novo.
O dono da tornearia, Augusto Castelo Branco dos Santos, 38, que trabalha no terceiro pavimento há 18 anos, no entanto, tem olhar cauteloso sobre o projeto. O empresário afirma que a expansão não tem impacto no seu movimento. “As pessoas me acham é pela internet”, justifica. Admite, no entanto, que um maior fluxo de gente no mercado pode contribuir para os negócios, ou até fazer com que aumente sua renda, de outra maneira.
“Se eu conseguir alugar minha loja depois da expansão, para uma galeria de arte, por exemplo, poderia transferir a tornearia para outro lugar, e assim teria duas fontes de recursos”, afirma.
Duas marcas famosas do estado já têm lojas reservadas nesta nova fase: o estilista Ronaldo Fraga e a banda de rock Sepultura. Um dos objetivos da mudança é destacar a produção local.
Fraga vai montar no Mercado Novo a Ronaldo Fraga para Todos. Segundo o estilista, o local será destinado a criação de coleções. “Aqui vai ser feito um espaço onde vai ser meu ateliê de criação, o ateliê de confecção das peças, um espaço onde as pessoas vão poder ver o passo a passo da feitura das coisas”, afirma o estilista.
Já a banda Sepultura vai montar no local uma loja para venda de seus produtos oficiais.
O prédio do Mercado Novo, concluído em 1963, tem três andares. O térreo e o primeiro andar possuem lojas de equipamentos elétricos, hidráulicos, embalagens e outros comércios.
Os dois andares superiores, que abrigavam as gráficas, tornearias e serralherias, no entanto, chegaram aos anos 2000 com poucas empresas. A partir de 2018, o segundo pavimento passou a receber cervejarias, bares especializados em cachaças e restaurantes de comidas e tira-gostos da culinária mineira.
O mercado foi atingido por um incêndio em 2004, mas sem provocar muitos danos.
O modelo deu certo e o segundo pavimento se transformou em “point” da cidade. A partir daí, buscou-se a expansão do terceiro pavimento, carregando a pegada mineira.
“Conseguimos mostrar a gastronomia mineira. Agora vamos apresentar o que o estado tem de melhor também na moda e na arte”, diz o curador do projeto de expansão do Mercado Novo, Luiz Felipe Castro, 26, cuja família é proprietária dos três andares do Mercado Novo. As lojas do térreo pertencem a outra administração.
Luiz Felipe afirma que a propaganda para a expansão do Mercado Novo ocorreu no “boca a boca”. “A história do prédio é muito legal e as pessoas naturalmente se interessam”, avalia o curador.
O local onde foi construído o prédio do Mercado Novo fazia parte de uma área degradada da cidade onde bondes que não circulavam mais eram deixados ao ar livre.
O prédio seria inicialmente para abrigar comerciantes do Mercado Central, inaugurado em 1929, também no centro da capital. Mas a transferência não chegou a ocorrer.
Parte do térreo do Mercado Novo funciona atualmente como um entreposto para mercadorias que deixam a Ceasa, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, com destino ao Mercado Central.
Luiz Felipe faz um paralelo entre o Mercado Novo e projetos semelhantes na Europa, que envolvem a criação de espaços de gastronomia, arte e cultura a partir de prédios que sejam personagens da história das cidades onde estão. Nesse sentido cita o LX Factory, em Lisboa.
O centro português foi construído em área que começou a ser utilizada por empresas em 1846 e que abrigou a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, a Companhia Industrial de Portugal e Colónias, a tipografia Anuário Comercial de Portugal e a gráfica Mirandela.
O FX Factory, que começou a ser criado em 2005, tem restaurantes com cozinha local e de outras partes do mundo, ateliês, galerias de arte, lojas de roupas, acessórios e se transformou em um importante centro de compras e lazer da capital portuguesa.