SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma fotografia dos pátios de metade das montadoras instaladas no Brasil mostraria centenas de automóveis aparentemente prontos para venda. Contudo são veículos incompletos, que talvez não cheguem às ruas.
Esses carros foram pré-fabricados de acordo com a sexta etapa do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares), que se encerra no dia 31 de dezembro. A sétima fase vale para modelos leves e entra em vigor no dia seguinte. Por consequência, os modelos inacabados que não estiverem adequados às novas regras de emissões e ruídos não poderão ser concluídos em 2022.
Pode parecer algo de simples solução, mas não é bem assim. Luiz Carlos Moraes, presidente das Anfavea, (associação das montadoras), explica que há muitas mudanças nos sistemas de pós-tratamento dos gases, e algumas montadoras aproveitaram a transição para atualizar outros componentes de seus automóveis.
As fabricantes precisam enviar ao governo os números dos chassis dos carros que estão em produção. Modelos montados fora do prazo determinado por lei nesta transição dos regimes de emissões são impedidos de obter licenciamento.
Cerca de 50% das empresas conseguiram componentes para terminar seus automóveis e já trabalham com a montagem de modelos adequados às novas normas. Esse movimento se refletiu nos dados de produção do último mês.
A fabricação de veículos leves e pesados no Brasil teve alta de 15,1% na comparação entre outubro e novembro, segundo a Anfavea. Os dados foram divulgados nesta segunda (6).
“Apesar das dificuldades, algumas empresas conseguiram completar veículos que estavam parados nos pátios, mas o resultado ficou bem abaixo de novembro de 2020, com queda de 13,5%”, diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
“Trabalhamos com muita dificuldade com a logística e com os semicondutores, mas considerando o contexto que estamos enfrentando, até que foi um bom mês.”
A falta de componentes eletrônicos ainda vai atrapalhar a produção durante o ano de 2022, e a demanda tende a crescer na indústria automotiva.
Moraes afirma que um carro atual tem cerca de 1.000 semicondutores. Com o avanço de tecnologias de segurança e de redução de emissões -como as opções híbridas que devem chegar ao mercado-, esse número pode chegar a 2.000, segundo estudos mencionados pela Anfavea.
Os carros adequados ao Proconve 6 que aguardam peças correm o risco de ser desmontados caso não fiquem prontos até o último dia deste ano. Se isso ocorrer, suas partes deverão ser aproveitadas no mercado de reposição ou em outros modelos. Cada fabricante terá sua política específica.
No pior cenário, os veículos incompletos serão destruídos e terão suas partes recicladas.
Os modelos prontos deverão ser distribuídos até o fim de março, sendo comercializados normalmente. Em outras viradas de legislação ambiental, tais carros eram vendidos com grandes descontos entre um ano e outro, mas isso não vai ocorrer agora.
Há falta de veículos para pronta entrega e alta nos preços. A consultoria Bright, especializada no setor automotivo, estima que os repasses acumulados nos últimos 12 meses resultaram em um aumento médio de 30% nos valores dos automóveis.
Essa escalada é resultado do desarranjo da cadeia automotiva, da alta do dólar e dos investimentos para adequação ao Proconve 7. A Anfavea diz que as montadoras já investiram R$ 10 bilhões nessa transição.
Moraes afirma que é um cenário atípico: nada parecido ocorreu em outras transições de legislação ambiental.
O aumento da produção em novembro resultou em uma pequena melhora nos estoques. No início de dezembro, havia carros disponíveis para atender a 18 dias de vendas, com 103,8 mil veículos nos pátios. No começo do último mês, as empresas tinham 93,5 mil unidades disponíveis, o suficiente para 16 dias de comercialização.
Contudo esse número é dinâmico: com as entregas feitas ao logo do mês e a proximidade de férias coletivas, o volume deve cair novamente em janeiro.
Moraes diz que as paradas nas fábricas dependerão também de questões logísticas, “mas com certeza registraremos um número mais baixo de produção, a menos que ocorre uma grande surpresa”.
A Anfavea fez seguidas revisões de expectativas. Há um mês, passou a apostar em dois cenários distintos para a produção.
A visão otimista considerou que, se houvesse uma regularização do fornecimento de semicondutores, cerca de 570 mil veículos deveriam sair das fábricas entre outubro e dezembro. Dessa forma, o ano fecharia com 2,219 milhões de veículos leves e pesados produzidos, alta de 10% em relação a 2020.
Para que esse número seja atingido, as montadoras terão de produzir 186 unidades neste mês, o que depende da entrega de peças e da programação das paradas fim de ano.
Na visão mais conservadora, a produção ficaria em 2,129 milhões de unidades, um crescimento de 6% ante o ano passado.
Em vendas, houve uma leve recuperação entre outubro e novembro. Foram emplacadas 173 mil unidades no último mês, uma alta de 6,5% em relação ao anterior. O cálculo foi feito com base no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).
Na comparação com novembro de 2020, houve queda de 23,1% no licenciamento de carros novos.