SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu neste domingo, aos 75 anos, o economista e professor João Sayad.
Sayad faria 76 anos no dia 10 de outubro. Nascido em São Paulo, formou-se em economia pela FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo) em 1967 e começou a dar aulas na instituição já no ano seguinte. Concluiu o mestrado em 1970 e desde 1978 era livre-docente.
Segundo pessoas próximas, um câncer que o acometeu há pouco mais de dez anos debilitou o economista, que estava vivendo no interior, mas ainda próximo da capital paulista.
Além de uma vasta vida acadêmica, Sayad ocupou diversos cargos públicos e em instituições ligadas à educação e à economia desde o fim dos anos 1970.
Na gestão de José Serra (PSDB), em 2007, foi secretário de Estado da Cultura do governo paulista e presidiu a Fundação Padre Anchieta, responsável pela gestão da TV Cultura.
Durante a administração de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo, quando essa ainda estava no PT, de 2001 a 2003, foi secretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico.
Na década de 1990, Sayad assinou a coluna Opinião Econômica na Folha. Também publicou outros artigos e análises no jornal, nos quais tratava prinicipalmente de educação e temas econômicos.
Em 2009, publicou “Que país é este?” (ed. Revan), uma reunião de seus artigos acadêmicos e de opinião. Pelo selo Portfolio Penguin, da Companhia das Letras, publicou em 2015 o livro “Dinheiro, dinheiro: Inflação, desemprego, crises financeiras e bancos”.
No Twitter, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) disse que Sayad foi uma das pessoas mais admiráveis que já conheceu. “Inteligente, bem-humorado, generoso… não cabe num tuíte nem numa biblioteca o tamanho desse ser humano.”
O colunista da Folha de S.Paulo Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de educação de São Paulo, afirmou, na mesma rede social, que Sayad foi um “gigante da economia, um brasileiro especial.”
Laura Carvalho, economista e professora da USP, disse que “nas poucas trocas” com João Sayad, ele impressionava pela generosidade e gentileza.
O economista Felipe Salto, diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado, classificou Sayad como alguém de “espírito público genuíno.”
Também via Twitter, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que João Sayad “ajudou muito o Brasil como ministro e a cidade de São Paulo, como secretário de finanças.”
“Extremamente triste com a perda de um grande amigo. João Sayad era uma figura ímpar, um economista diferenciado, de espírito iluminado e inquieto, e amplos horizontes intelectuais. Ao longo de quase 3 décadas conversamos por horas sempre q era possível. Mais uma triste perda”, escreveu a economista Leda Paulani.
Segundo registro do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da FGV (Fundação Getulio Vargas), Sayad ocupou seu primeiro cargo na gestão pública em 1983, quando foi secretário de Fazenda do estado de São Paulo na gestão Franco Montoro (1983-1987), atuação que abriu caminho à nomeação para um ministério no governo Tancredo Neves.
Em 1985, sucedeu Antônio Delfim Neto no Ministério do Planejamento do primeiro governo democrático após o fim da ditadura militar.
Ele integrava, na época, o grupo de novos economistas paulistas, do qual também faziam parte José Serra, Luciano Coutinho e André Franco Montoro Filho. Sayad era contra a política econômica de juros altos e corte nos gastos públicos, o que o colocou em conflito com Francisco Dornelles, então ministro da Fazenda.
Sayad estava na equipe que criou o Plano Cruzado, em 1986, em substituição ao cruzeiro. Em 1987, deixou o governo Sarney e voltou a dar aulas na FEA-USP.
No últimos 50 anos, também foi consultor sobre crédito rural para o Banco Mundial, editor da revista Estudos Econômicos, do IPE (Instituto de Pesquisas Econômicas), vice-presidente de Finanças e Administração do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e fundou o Banco SRL, depois rebatizado para Banco Interamerican Express, após venda para a American Express.
Em 2006, na revista piauí, Sayad se descreveu como um “brasileiro e católico, neto de quatro avós libaneses”, que perdeu a fé durante 30 anos, mas que um dia a reencontrou.
Contou que um certo domingo, em Campos do Jordão (SP), onde passava os fins de semana, decidiu ir à missa -“missa das seis da tarde, na Igreja de São Benedito.”
“Na fila da comunhão, cada uma daquelas cabeças, que me impediam de ver o altar, estava cheia de ansiedades, problemas e dúvidas iguais ou mais terríveis do que as minhas. Desconhecidos que eram cúmplices, parceiros, irmãos de um destino comum. Senti aconchego e conforto. ‘Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles’, Mateus 18:20”, contou o economista.
“Desde então, vou à missa todos os domingos.”