BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e da Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos (PSOL) diz que a manifestação na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) faz parte de um conjunto de ações contra a fome, a desigualdade social e o governo Jair Bolsonaro, e que portanto outras similares deverão acontecer em breve.
Nesta quinta-feira (23), manifestantes dos dois movimentos invadiram o edifício-sede da B3, na região central da capital, e fizeram manifestação simbólica para evidenciar a agudização do problema da fome no Brasil atualmente, que ocorre de maneira simultânea ao enriquecimento dos estratos mais ricos do país, disseram os organizadores. Na base do processo, avaliam, estão as políticas de Bolsonaro.
Segundo a assessoria de comunicação da B3, a manifestação ocorreu de forma pacífica, em um local de acesso público, e não impactou as operações de mercado. Em uma primeira avaliação após o ato, nenhum dano às estruturas do chamado Espaço B3 foi encontrado.
“Existe uma campanha que o movimento lançou, ‘tá caro, a culpa é do Bolsonaro’, que responde ao problema da inflação, do preço dos alimentos, da carestia, da fome, da desigualdade. Essa foi uma primeira ação de um conjunto que o MTST deve fazer”, afirma Boulos à coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
Na noite de quinta, em sua live semanal, Bolsonaro falou do protesto e criticou Boulos.
“Boulos disse que o protesto é contra a fome e o desemprego, então vamos deixar claro aqui: prezado Boulos, fome e desemprego. Desemprego: o que você fez, o teu partido e a esquerda como um todo fez, para que pessoas não perdessem a renda em 2020?”, disse o presidente, que chamou o psolista de paspalhão.
“Ser xingado por Bolsonaro é um elogio. Ele não tem autoridade moral alguma para falar de fome e desemprego”, retruca Boulos. “O Brasil voltou para o mapa da fome no governo dele. Estamos no recorde de desemprego, 15 milhões de desempregados. Se o Brasil tivesse adotado as medidas sanitárias teria podido retomar a economia antes. Não adotou”, acrescenta.
O líder sem teto afirma que Bolsonaro promoveu o bordão de que salvaria a economia e as vidas e não fez nenhuma das duas coisas, mas promoveu um genocídio. O Brasil chegou a 593.018 óbitos e a 21.307.960 pessoas infectadas desde o início da pandemia nesta quinta (23).
“O mundo inteiro se recuperando, o Brasil com atividades em normalização por causa da vacinação avançada, e mesmo assim tivemos queda do PIB no segundo trimestre. Bolsonaro desmontou as políticas de segurança alimentar do país. Temos uma inflação nos alimentos como não se via desde os anos 1980. Ele é o grande responsável por essa crise. Nenhuma demagogia ou xingamento vão apagar isso”, reforça Boulos.
Sobre o protesto na sede da B3, ele afirma que o objetivo central foi trazer para o debate público o tema da fome no Brasil.
“Temos 19 milhões de pessoas passando fome no país. Não é normal. Isso precisa vir para a agenda pública do país. O governo não esta fazendo nada. O MTST está fazendo mais, criando cozinhas solidárias pelo país”, conclui Boulos.
A ideia de fazer o protesto na B3 teve o propósito de ilustrar a ampliação do abismo entre os estratos mais ricos e os mais pobres da sociedade brasileira durante a pandemia, processo que, segundo os organizadores, tem sido turbinado pelo governo federal.
Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, conduzido pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), mostraram que a fome atingiu 19 milhões de brasileiros na pandemia em 2020.
Eles estão entre as 116,8 milhões de pessoas que conviveram com algum grau de insegurança alimentar no Brasil nos últimos meses do ano, o que corresponde a 55,2% dos domicílios.
Mesmo com a pandemia e a piora dos indicadores econômicos, o número de bilionários brasileiros cresceu em 2021. De acordo com a Revista Forbes, pelo menos mais 40 pessoas conseguiram atingir a marca de R$ 1 bilhão de patrimônio neste ano, impulsionadas pelo aumento de oferta de ações na Bolsa.
Segundo a Forbes, os incentivos financeiros lançados mundialmente para combater a crise aqueceram o mercado de capitais e foram um dos principais fatores para o aumento de patrimônio dos super-ricos.