Avaliação de especialistas

Alta do IOF sofre revés e lança dúvidas sobre solidez fiscal

Com as novas regras, a partir desta sexta-feira (23), investidores passam a pagar 3,5% de IOF — bem acima da alíquota anterior de 1,1%

Foto: Pixabay
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Após anunciar nesta quinta-feira (22) o aumento das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre planos de previdência privada e remessas ao exterior, o governo federal voltou atrás em parte da medida, revogando o trecho que tributava fundos de investimento fora do país. A expectativa inicial da Fazenda era arrecadar R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026, mas a estimativa será revista. A mudança gerou reações mistas entre agentes do mercado e reforçou a percepção de fragilidade no cumprimento das metas fiscais.

Na avaliação da Avenue, instituição financeira voltada para investimentos internacionais, o movimento “reflete uma situação fiscal deteriorada do Brasil, que precisa ser corrigida”, segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da casa.

Alves destaca que o governo já vinha adotando medidas para enfrentar o desequilíbrio fiscal, sobretudo por meio de aumento de impostos, como agora com o IOF. “Isso só reforça o que sempre comentamos na Avenue: a importância de manter parte do patrimônio investido no exterior. É muito melhor estar seis meses adiantado do que cinco minutos atrasado — esse foi o exemplo máximo”, afirmou.

Impacto do Aumento do IOF

Com as novas regras, a partir desta sexta-feira (23), investidores passam a pagar 3,5% de IOF — bem acima da alíquota anterior de 1,1%. Para Alves, a decisão reforça a percepção de risco-país e evidencia as fragilidades da economia brasileira. “O investidor brasileiro precisa ter uma parcela do seu capital no exterior como forma de proteção”, alertou.

O estrategista ainda observa que o cenário fiscal, longe de uma solução definitiva, pode aumentar o interesse por alocação internacional de recursos. “Essa mudança tende a criar uma demanda relevante por investimentos fora do país — como vimos nos primeiros meses do governo Lula”, acrescentou.

Reações e Perspectivas do Mercado

Daniel Haddad, CIO da Avenue, também comentou os impactos do atual ambiente. “Todas essas incertezas aumentam a percepção de risco. Basicamente, ninguém sabe até onde o governo está disposto a ir”, afirmou. Como exemplo, ele citou a desvalorização do peso argentino: “Em 2008, o dólar valia seis pesos argentinos. Hoje, vale cerca de 1.136. Sempre que a percepção de risco-país aumenta, o indivíduo acaba empobrecendo em relação ao mundo”.