
As medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda funcionam como alternativas ao decreto que elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que, segundo Fernando Haddad (PT), será “recalibrado”. Na visão de especialistas, o movimento é uma tentativa direta de aumentar a arrecadação federal em um momento de forte pressão fiscal.
“Fica claro que essa recalibragem será usada como instrumento compensatório, ou seja, com o aumento de arrecadação vindo da taxação das ‘bets’ e do fim da isenção de alguns papéis de renda fixa”, afirmou Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos.
Com isso, o governo pode suavizar ou rever parte do aumento recente do IOF Crédito, anunciado na semana retrasada.
A chamada “recalibragem” pode representar um alívio parcial no custo do crédito para empresas — uma tentativa do governo de preservar o arcabouço fiscal diante da frustração de receitas, da resistência do Congresso a outras fontes de arrecadação e também uma compensação política para setores que criticaram fortemente o aumento do IOF nas últimas semanas. A medida seria, ainda, um esforço para melhorar a percepção do governo.
“O que chama atenção é que essa estratégia reforça a dependência do governo sobre tributos indiretos e mudanças pontuais de curto prazo, em vez de uma reforma mais estruturada do sistema tributário”, acrescentou Patzlaff.
Uma nota técnica divulgada recentemente pelo CLP (Centro de Liderança Pública) apontou que, se as despesas obrigatórias não forem repensadas, cada novo aumento de imposto apenas adiará o ponto de ruptura — corroendo a confiança de investidores, penalizando o crescimento e reforçando o ciclo vicioso de “arrecadar para tapar buraco”.
Governo improvisa no IOF e economistas apontam risco
Na avaliação de Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, a discussão sobre alternativas ao IOF tem gerado cautela nos mercados, especialmente diante da sinalização de que sua substituição poderá ocorrer via novas tributações. Antes do anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o executivo já citava possibilidades como “taxações sobre criptoativos, apostas eletrônicas e revisão de benefícios fiscais”.
“Para os investidores, a incerteza gerada por mudanças tributárias repentinas e a falta de uma estratégia fiscal clara dificultam o planejamento de longo prazo e podem levar à reavaliação de investimentos no país”, afirmou Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.
Os especialistas ressaltam que a confiança dos investidores está diretamente ligada à estabilidade e à previsibilidade das políticas econômicas. Medidas como o aumento do IOF, sem diálogo prévio, tendem a comprometer esse ambiente.
No geral, os analistas indicam que o cenário de incertezas fiscais, somado a mudanças constantes e improvisadas, contribui para a percepção de risco elevado por parte dos investidores no Brasil.