O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) alertou nesta terça-feira (13) que o cenário inflacionário segue desafiador e exige uma política monetária “significativamente contracionista por período prolongado”.
A avaliação consta na ata da última reunião do comitê, realizada nos dias 6 e 7 de maio, quando a taxa básica de juros, a Selic, foi elevada em 0,50 ponto percentual, passando para 14,75% ao ano.
O aumento da Selic, aprovado por todos os membros do comitê, levou os juros ao maior patamar registrado desde 2006 — o mais alto em quase vinte anos.
A decisão foi justificada por um conjunto de fatores: inflação persistente, expectativas desancoradas, atividade econômica ainda resiliente e incertezas crescentes no cenário internacional.
De acordo com o Copom, a inflação de serviços — que tem mais inércia — continua acima do nível compatível com o cumprimento da meta, e os núcleos de inflação permanecem elevados há meses, o que indica pressões de demanda.
Copom destaca inflação acima da meta
O Comitê destacou ainda que as projeções de inflação para os anos de 2025 e 2026 seguem acima da meta estipulada, situando-se em 4,8% e 3,6%, respectivamente. Já as expectativas apuradas pelo Boletim Focus são ainda mais pessimistas: 5,5% para 2025 e 4,5% para 2026. Diante desse cenário, o BC reforçou que o processo de desinflação será mais lento e custoso.
“Ambientes com expectativas desancoradas aumentam o custo de desinflação em termos de atividade”, alertou o Copom na ata. O comitê avalia que será necessário manter os juros em patamar elevado por mais tempo do que se previa anteriormente.
Outro ponto central da discussão foi o ambiente internacional. O Copom apontou um quadro de “incerteza muito maior do que o esperado”, especialmente em razão da política comercial dos Estados Unidos e de seus impactos sobre o crescimento global e as cadeias de produção. O Comitê ressaltou que o aumento da incerteza e a desaceleração mais acentuada da economia norte-americana aprofundaram a deterioração do cenário externo.
Internamente, a atividade econômica mostra sinais de moderação, mas ainda sustenta um dinamismo relevante — em especial no mercado de trabalho, que segue aquecido, com taxas de desemprego historicamente baixas e ganhos reais de renda acima da produtividade. Esse ambiente favorece o consumo e pressiona a inflação, segundo a análise do Copom.
“A política monetária restritiva já tem tido impactos no mercado de crédito, nas empresas, no câmbio e no consumo das famílias”, observou o comitê, destacando que parte desses efeitos ainda está em processo de materialização e deve se aprofundar nos próximos trimestres.
Fiscal exige cautela, diz BC
O Copom também abordou a política fiscal, apontando que eventuais fragilidades — como o aumento de crédito direcionado e dúvidas sobre a trajetória da dívida pública — podem elevar a taxa de juros neutra da economia, reduzindo a eficácia da política monetária. “As políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas”, reforçou a ata.
Em relação ao futuro, o comitê adotará postura vigilante e flexível, considerando a evolução da inflação, das expectativas e do hiato do produto para calibrar os próximos passos da política monetária. A sinalização para a próxima reunião é de cautela, diante do estágio avançado do ciclo de aperto monetário e dos efeitos ainda em curso.
Todos os membros do comitê votaram pela elevação de 0,50 ponto percentual da taxa Selic, que agora se mantém em seu maior nível desde 2017. A decisão, segundo o BC, busca “assegurar a estabilidade de preços e suavizar as flutuações da atividade econômica”.