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Ata do Copom é vista como ‘dove’ por especialistas

“A mensagem que o Copom passa é: ‘interromper o ciclo de alta e observar os efeitos do ciclo já empreendido’”, disse especialista

Foto: Divulgação
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A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), realizada na quarta-feira (18) e divulgada nesta terça-feira (24), reforçou que os próximos passos da política monetária poderão ser ajustados conforme o cenário econômico. A decisão de elevar a Selic (taxa básica de juros) a 15% ao ano foi acompanhada de um tom que alguns especialistas classificaram como mais “dovish”.

“A ata foi levemente ‘dove’, mas não deve causar movimentos significativos no mercado”, comentou Fabio Kanczuk, diretor de macroeconomia da ASA.

No texto, o Copom menciona, em particular, que o cenário externo está melhor e que a moderação no crescimento doméstico ocorre de maneira bastante gradual. Além disso, as discussões fiscais sobre a redução de gastos tributários podem ter efeito positivo sobre o prêmio de risco. Também em tom construtivo, a inflação apresentou surpresas baixistas no curto prazo.

“O comitê novamente afirmou que seu plano é manter os juros em patamar contracionista por período bastante prolongado, devido à desancoragem das expectativas”, pontuou Kanczuk. Ele acrescentou que, a menos que ocorra uma mudança muito brusca no cenário, o Copom não deve alterar o patamar de juros.

“A mensagem que o Copom passa é: ‘interromper o ciclo de alta e observar os efeitos do ciclo já empreendido’”, afirmou Beto Saadia, diretor de Investimentos da Nomos.

Mercado não esperava alta da Selic, mas os 15% ‘não foram grandes surpresas’

Para Bruno Corano, economista da Corano Capital, não houve muita novidade. “Eles sinalizaram uma parada nessa alta de juros agora para avaliar o cenário. Isso já era largamente esperado. Grande parte do mercado achava que não ia nem subir os juros, mas esses 15% também não foram uma grande surpresa.”

Ele acrescentou que a posição da autarquia em interromper o ciclo de alta também não surpreendeu.

“Algumas questões de como essa inflação vai convergir aqui no Brasil são nebulosas. As projeções continuam acima da meta e nós temos uma política fiscal que não ajuda a monetária”, destacou.

Questão tributária preocupa

Corano também chamou atenção para um ponto que, segundo ele, tem sido pouco discutido: a questão tributária, especialmente com a chegada do IVA (Imposto sobre Valor Agregado). “Uma taxa muito alta vai gerar algumas ineficiências e provavelmente pressões nos preços. A gente vai ter um problema aí”, avaliou.

Na sua perspectiva, a ata deixou claro que o Copom “não vai fazer nada agora”, indicando que não há espaço para elevar ainda mais a Selic. “Já está no limite”, afirmou. Segundo ele, o que resta é esperar o câmbio aliviar, bem como uma queda no preço do petróleo, para que isso ajude a reduzir também os juros e o custo dos combustíveis.