Especialistas entrevistados pelo BP Money defendem que o aumento no número de consórcios nos últimos anos está associado ao aumento das taxas de juros nos financiamentos tradicionais. A expectativa é cresça ainda mais.
O número de consórcios chegou a 1,23 milhão de cotas no primeiro trimestre de 2025 e bateu recorde: esse é o maior volume em 20 anos, disse a Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios). Os setores com maiores resultados foram os de veículos leves e motocicletas.
Em paralelo, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu em aumentar a taxa Selic para 15%, um valor considerado bastante alto. O resultado é um encarecimento dos financiamentos de bens.
“Como o consórcio não possui juros e possui uma taxa de administração muito baixa (geralmente entre 9% e 25% para todo o período do plano) em comparação aos financiamentos, atrai muitos consumidores.” explicou Karine Damiati, planejadora financeira e sócia da AVG Capital. “A modalidade se consolida como uma alternativa sólida para consumidores, que buscam atingir objetivos financeiros com menor custo e maior previsibilidade, podendo ser uma forma eficaz de alavancar patrimônio.”
Além das taxas de juros, o aumento da familiaridade da população com esse modelo de crédito e com a educação financeira está “abrindo portas” para o a valorização do planejamento a longo prazo. “As pessoas estão trocando o imediatismo por estratégias mais sustentáveis. Isso tende a manter a curva de crescimento ascendente, especialmente entre os que estão pensando em comprar imóveis, veículos ou mesmo investir em serviços”, afirmou Damiati.
E, com a perspectiva de que a taxa de juros ainda demore para diminuir, a expectativa é que o número só aumente. “Acredito que o volume tende a aumentar muito mais, pois a divulgação desse canal de financiamento está em alta, além do atrativo de taxas bem inferiores dos demais financiamentos. (…) A digitalização dos processos de adesão e gestão de cotas também aumenta a conveniência, atraindo consumidores mais jovens e conectados” concluiu Karine Damiati.
Por outro lado, Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, chamou a atenção para o aumento do marketing e estratégias com influenciadores ao redor dos consórcios. Se, por um lado, a presença digital atraiu jovens, segundo ele, muitos deles “entram” nesse tipo de modelo sem ter plena consciência do que se trata.
“O crescimento também tem um lado preocupante, muitos consumidores estão entrando no sistema sem compreender completamente seus riscos e limitações, a ilusão de estar contratando algo ‘sem juros’ e de conseguir comprar um bem com parcelas baixas pode mascarar o real custo da operação — que inclui taxas, correções, falta de liquidez e incerteza quanto à contemplação, ou seja, o crescimento é real, mas em boa parte movido por uma percepção incompleta do funcionamento do consórcio.”
Número de consórcios atinge 1,23 milhão de cotas
Como dito anteriormente, o número de consórcios atingiu o maior volume em 20 anos. O resultado representa um avanço de 26%. No mesmo período de 2024 foram comercializadas 975,95 mil. Em 2025, o setor atingiu a marca de 1 milhão de cotas um mês antes que em 2024 (em março e em abril, respectivamente).
O volume de créditos comercializados (a somatória dos valores de cotas vendias) atingiu R$ 105,38 bilhões. O montante representa um avanço de 36,4% em comparação com os R$ 77,24 bilhões do 1º trimestre de 2024.
Atualmente são 11,44 milhões de consorciados. No gráfico com o total de consorciados por setor, 42,9% (4,91 milhões) diz respeito a consorciados por veículos leves. Em segundo lugar vêm as motocicletas, com 26,8% do total (2,23 milhões). A medalha de bronze vai para os imóveis, 19,5% (2,23 milhões).
O modelo de consórcio ainda é válido?
O advogado do consumidor e ex-professor universitário de Economia e Mercado Ilmar Muniz acredita que sim.
“Desde que o consumidor esteja ciente de que consórcio não é financiamento, e sim uma forma de compra programada. Para quem tem disciplina e planejamento, é uma excelente alternativa, pois elimina os juros altos e permite uma aquisição mais econômica. Mas é importante saber que a contemplação pode demorar, caso não haja lance ou sorteio” ressaltou Muniz.
O especialista deu cinco dicas para contratar um consórcio de maneira consciente
1. Verifique se a administradora é autorizada pelo Banco Central.
2. Leia todo o contrato com atenção, principalmente as regras de contemplação, taxas e prazos.
3. Desconfie de promessas de contemplação imediata garantida.
4. Cuidado com vendedores informais ou intermediários suspeitos.
5. Pesquise a reputação da administradora e leia avaliações de outros consorciados.