
Aconteceu nesta quarta-feira (30) a chamada Super Quarta: data que marca a coincidência de quando tanto o Brasil quanto os EUA anunciam suas taxas de juros no mesmo dia.
No Brasil, O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu por unanimidade nesta quarta-feira (30) manter a taxa Selic em 15% ao ano, após um ciclo de sete aumentos consecutivos, confirmando o fim do aperto monetário.
Já nos Estados Unidos, o FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto) do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) decidiu, nesta quarta-feira (30), manter a taxa de juros norte-americana inalterada entre 4,25% e 4,50% ao ano. Esta é a sexta reunião consecutiva em que a autoridade monetária opta pela manutenção da taxa.
Assim como não houve alteração nas taxas de juros de ambos os países, economistas e especialistas do mercado financeiro comentaram que já esperavam o resultado, mas ressaltaram aspectos específicos das realidades de ambos os países; ambos envolvendo o presidente Donald Trump.
Brasil pressionado interna e externamente
Além da manutenção da manutenção da taxa de juros num valor alto, 15%, o cenário econômico brasileiro também foi marcado, nesta quarta-feira (30), pela assinatura, por Donald Trump, de um decreto executivo que oficializa a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros.
Diante de todo esse contexto, as principais justificativas do Copom para o resultado divulgado hoje foram:
- Controle da inflação: O IPCA permanece acima do teto da meta (4,5%) e os itens núcleos de inflação continuam pressionados, evidenciando demanda ainda aquecida, assim, manter a taxa alta ajuda a desacelerar o consumo e conter a alta de preços.
- Avaliação dos impactos das altas anteriores da taxa Selic: Dessa forma o Copom opta por aguardar que os efeitos das medidas já adotadas se materializem na economia antes de decidir novas intervenções.
- Incertezas no cenário externo e fiscal: Há preocupação com o impacto do “tarifaço” dos EUA e sua possível reação na economia real brasileira, além de incertezas quanto à sustentabilidade fiscal do país.
George Sales, especialista em mercado financeiro na FIPECAFI, considera que a manutenção da taxa após tantas altas consecutivas é uma “pausa estratégica”.
“Essa ‘pausa’ permite observar melhor o comportamento do mercado de trabalho, atividade econômica e inflação. Isso [incerteza no cenário externo e fiscal] reforça a necessidade de manter uma postura monetária cautelosa e vigilante”.
Pablo Spyer, membro do Conselho da Ancord e Economista, também é um dos que apoiam a decisão “Ainda que haja sinais de alívio na inflação, o momento exige firmeza e vigilância. A Ancord apoia a decisão e reforça que a credibilidade da política monetária é essencial para consolidar a queda das expectativas e proteger o poder de compra do brasileiro.”
Por outro lado, diante das novas dificuldades e incertezas vindas do norte da América, o mercado e os demais profissionais da economia demandam, para além de cautela, adaptações. “O tarifaço de Trump impõe não só barreiras alfandegárias, mas também exige resposta tributária estratégica e coordenação política do Brasil para evitar perdas de receita, empregos e participação global”, Mary Elbe Queiroz, Advogada Tributarista, presidente do Cenapret e sócia da Queiroz Advogados.
Há uma concordância de que os cortes na taxa de juros devem ficar para 2026.
Decisão do Fomc escancara divisão interna
A manutenção da taxa de juros nos EUA também não foi poupada de pressões do presidente Donald Trump.
Horas antes da divulgação do comunicado do Fed sobre a política monetária, Trump usou sua rede social Truth Social para pressionar o banco central: “O PIB DO 2º TRIMESTRE ACABOU DE SER DIVULGADO: 3%, MUITO MELHOR DO QUE O ESPERADO! ‘Tarde demais’ AGORA TEM QUE BAIXAR A TAXA. Sem inflação! Deixe as pessoas comprarem e refinanciarem suas casas!”
A decisão, de 9 contra 2, jogou luz à divisão interna que já está surgindo dentro do banco central dos EUA, a maior desde 1993. Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, no entanto, acredita que a divergência pode ser produtiva: “a discussão pode ter um efeito positivo no mercado ao indicar a proximidade do ciclo de afrouxamento, que já é esperado para a partir de setembro. Powell buscou afastar questionamentos sobre a tecnicidade do argumento dissidente, afirmando que houve uma discussão embasada a respeito da possibilidade de cortes.”
Enrico Gazola, economista pelo Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria acredita que “o comunicado oficial empurra a decisão para os próximos dados, mas a sinalização é inequívoca: o Fed continua mais preocupado com o risco de reacender expectativas inflacionárias do que em perder o timing do corte”
“Cabe agora a Powell deixar claro se essa precaução é apenas uma retórica de proteção institucional ou um indicativo de que o primeiro corte está mais longe do que os mercados — e o presidente — gostariam de acreditar”, completou o economista.