Foto: Freepik
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O ambiente atual é de estresse para a política monetária brasileira, de acordo com Gustavo H. B. Franco, ex-presidente do Banco Central (1997–1999). Segundo ele, diante do quadro fiscal, a possibilidade de gastos públicos adicionais — por “imprevistos eleitorais”, por exemplo — colocaria a autarquia em uma “sinuca”, pois “vai estressar o objetivo de manter a inflação dentro da meta e vai estressar também a restrição fiscal e a necessidade de rolar a dívida”.

As declarações foram feitas na quinta-feira (23), durante o 8º Encontro Nacional da ANFIDC.

Diante de um cenário fiscal preocupante, o efeito dominó já é observado, com impactos sobre o câmbio. O ex-presidente do BC explicou que as amplas tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — incluindo sobre produtos brasileiros — não tiveram efeito imediato sobre a economia.

“A partir do Liberation Day para cá, o real ficou mais forte. E é curioso que, quando houve o anúncio do Liberation Day, a sensação foi de que o setor externo ficaria mais difícil, com chuvas e trovoadas, e, ainda assim, a moeda brasileira se fortaleceu”, afirmou.

Franco observou que, de forma inesperada, os primeiros meses do chamado “tarifaço” foram “bons para o Brasil, porque provocaram um movimento que trouxe a inflação brasileira para baixo”.

Gustavo Franco avalia cenário de câmbio e juros

Contudo, ele ponderou que o chamado “câmbio de equilíbrio”, frequentemente citado por economistas, “não existe”, classificando o conceito como uma “abstração”. Para ele, o mais relevante é manter o foco na dinâmica dos juros.

A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, é, segundo Franco, um reflexo direto do cenário fiscal. “O maior endividado do país mora em Brasília — é o governo federal”, disse.

“Se o Banco Central insiste em fixar uma Selic que não atende ao requisito de rolagem da dívida pública, não vai funcionar. […] Hoje, os juros em 15% atendem simultaneamente ao objetivo de manter o sistema de metas de inflação como está, dentro das limitações, e também ao objetivo de rolagem da dívida”, concluiu.