Indicador altista

Inflação e descompasso econômico geram dor de cabeça para investidores

A cautela do BC é vista como apropriada pelos economistas, mas não é suficiente para arrefecer os efeitos da inflação

Foto: Canva
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A prévia oficial da inflação, o IPCA-15, já está às portas, e os preços brasileiros seguem em alta constante. Mesmo desacelerando em fevereiro, a inflação de alimentos deve voltar a avançar, pressionada especialmente pelo preço dos ovos e do café. Além destes, alguns “vilões” protagonizam a persistência inflacionária no Brasil.

A desancoragem das expectativas de inflação tem ficado cada vez mais evidente, considerando que o País vive uma crise de confiança. Na avaliação de economistas, o cenário tem afetado até o BC (Banco Central), refletindo-se na desancoragem e retroalimentando a inflação recorrente. Isso porque, num cenário ideal, a inflação é geralmente oposta aos juros, ou seja, se um está alto, o outro está baixo.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, entende que há um antagonismo entre as políticas econômicas. “Ainda que o juro esteja restritivo, a política fiscal é expansionista. O aumento dos gastos públicos alimenta a demanda agregada”, disse ele ao BP Money.

O descompasso mencionado pelo especialista se dá pelo fato de que, de um lado, o governo brasileiro adota medidas expansionistas para sustentar programas sociais, elevando os gastos públicos sem propor contrapartidas de receita (arrecadação que equilibre os gastos). Na outra ponta, o Banco Central mantém uma política de juros elevados a fim de conter a inflação e preservar a credibilidade fiscal.

Como efeito colateral, os juros altos encarecem o custo da dívida pública, tornando ainda mais difícil equilibrar as contas fiscais. Além disso, há uma redução na eficácia da política monetária, já que o aumento dos gastos públicos pode neutralizar parte do efeito contracionista dos juros altos.

Até janeiro de 2025, a DPF (Dívida Pública Federal) estava em R$ 7,253 trilhões.

Cautela do BC sobre Selic não é suficiente para conter inflação

Em sua última reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC anunciou o aumento de 1 ponto percentual da Selic (taxa básica de juros). Assim, a taxa agora está em 14,25% ao ano.

A cautela da autarquia é vista como apropriada pelos economistas, mas não é suficiente para arrefecer os efeitos da inflação. “Outros mecanismos, como a valorização do real e o controle fiscal, também influenciam no combate à inflação”, comentou Ângelo Belitardo Neto, da Hike Capital.

Sob a perspectiva de que somente os juros não poderiam “resolver” o problema, foram levantados pontos que deveriam ser observados e melhorados no cenário. Dentre as questões está o compromisso com o ajuste fiscal, que pode reduzir as expectativas inflacionárias e possibilitar uma redução mais sustentável da Selic; e uma política de crédito prudente, que promoveria um equilíbrio capaz de evitar distorções que provocam o aumento da inflação.

IPCA: o que pode aliviar a pressão

Num cenário hipotético, há alguns fatores que poderiam arrefecer as altas, como um ajuste fiscal inesperado e crível para economistas e investidores. “O combate à inflação exige uma abordagem integrada, combinando política monetária, disciplina fiscal e reformas estruturais”, ponderou Carlos Eduardo Oliveira Jr., Conselheiro do Corecon-SP e presidente do Sindicato dos Economistas no Estado de SP.

Por fim, no cenário externo, uma possível desaceleração global, especialmente nos EUA e na China, poderia reduzir os preços das commodities e beneficiar o Brasil.

No mês de fevereiro, o IPCA acelerou 1,31%, sendo a maior alta para o mês desde 2003. O aumento de 16,80% na energia elétrica residencial, que exerceu um impacto de 5,06 pontos percentuais no índice, influenciou o resultado. No acumulado de 12 meses até fevereiro, a taxa registra alta de 5,06%.