O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil apresentou uma alta moderada de 0,4% no segundo trimestre de 2025, um resultado um pouco acima das expectativas do mercado, mas que confirma a desaceleração da economia diante do cenário de juros elevados.
Apesar das dificuldades, o consumo das famílias mantém a atividade econômica resiliente, sustentando o crescimento mesmo sob forte aperto monetário.
A economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, destaca que o cerne da mensagem do PIB é resiliência, ainda que o ritmo de crescimento esteja desacelerando.
Segundo a especialista, “PIB só coloca em dúvida a velocidade da mesma [desaceleração]”, e avalia que o desempenho recente evita leituras mais negativas sobre a atividade, garantindo um carrego estatístico de 2,4% para 2025.
Isso torna uma alta anual de 2,5% mais plausível, com um viés altista para a projeção anterior de 2,2%.
Porém, a economista-chefe ressalta que a composição do dado foi “apenas moderadamente positiva”, com destaque para o setor de serviços financeiros, comércio e indústria de transformação, enquanto o consumo doméstico desacelerou, e construção e indústria extrativa ficaram abaixo do esperado.
Com freio nos juros e pé no consumo, PIB avança
No entanto, a manutenção dos juros em patamar elevado pela Selic, atualmente em 15% ao ano, é apontada como um dos principais freios para o crescimento econômico.
Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados), reforça esse ponto ao afirmar que “Quando olhamos a demanda agregada e temos uma taxa de juros nesse patamar, consequentemente é um freio de mão da economia.”
O economista-chefe explica que o ciclo de política monetária restritiva tem limitado o potencial de crescimento, mesmo diante de um mercado de trabalho aquecido, com a menor taxa de desemprego da série histórica e aumento da renda real.
“Se tivéssemos uma taxa Selic num patamar mais civilizado, inegavelmente nós teríamos também um incentivo maior à produção, incentivo maior ao investimento e, consequentemente, também ao consumo”.
Esse contraste entre juros altos e consumo forte é a marca do atual momento econômico brasileiro.
O próprio Felipe destaca que o consumo das famílias continua sendo “um importante vetor de crescimento”, sustentado pela massa salarial robusta, mesmo que o cenário externo, marcado pelo neoprotecionismo e tensões comerciais, desafie a economia interna.
Ambiente estável é chave para sustentar o crescimento, diz especialista
Uma menção relevante sobre o ambiente macroeconômico veio do conselheiro da Ancord, Pablo Spyer, que enfatizou a importância de “segurança jurídica e previsibilidade fiscal” para sustentar a atividade econômica.
Embora não tenha citado diretamente o rombo fiscal, sua análise reforça que o país precisa de um ambiente estável para estimular investimentos e produtividade, fatores essenciais para o crescimento no médio prazo.
Normalização do agro expõe ritmo real da economia
Leonardo Costa, economista do ASA, acrescenta que a desaceleração do PIB no segundo trimestre foi muito influenciada pelo fim do efeito da safra recorde, concentrado no primeiro trimestre, enquanto os setores de serviços e indústria apresentaram sinais de recuperação.
“Serviços e Indústria aceleraram na margem, com transporte e extrativas em destaque”, disse. Apesar disso, ele mantém a projeção de desaceleração gradual da economia ao longo do ano, com crescimento de 2,2% em 2025.