Durante a semana de 22 a 26 de setembro, os mercados do Brasil e dos EUA funcionaram, em geral, de maneira estável, em função da divulgação de dados e de eventualidades, como o encontro entre Lula e Trump na Assembleia-Geral da ONU.
Para a semana que vem, de 29 de setembro e 3 de outubro, o impacto da divulgação de dados e declarações de autoridades financeiras tende a ser ainda maior.
Semana que passou: espera por dados e “química”
A última semana completa do mês de setembro começou com grande expectativa para a divulgação do IPCA-15 e da correção do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA – ambos divulgados apenas na quinta-feira (25).
Os EUA divulgaram a revisão do PIB do segundo trimestre e o resultado foi revisado para 3,8% de crescimento, maior que a estimativa anterior de 3,3%.
Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, analisa que o dólar se manteve firme frente às moedas emergentes “sustentado pelo cenário de juros elevados e pela percepção de segurança que a moeda americana oferece em períodos de incerteza global”. No país, os mercados navegaram com volatilidade moderada, influenciados pelas notícias e declarações sobre a política monetária do Fed (Federal Reserve).
No Brasil, IPCA-15 foi divulgado ainda antes da abertura do mercado; o resultado da prévia da inflação de setembro foi de aumento de 0,48%, após uma queda de 0,14% registrada em agosto. O resultado fez com que a bolsa abrisse o dia em queda, tendência que se manteve durante o pregão.
Sobre o cenário nacional, Da Matta, analisa que o dado dado reforçou a percepção de inflação controlada, mas que ainda tem impactos setoriais pontuais, orientando decisões de investidores em renda fixa e variável.
“O dólar apresentou leve valorização frente ao real, pressionado por fatores externos, como aversão a risco global, e internos, incluindo incertezas sobre a política fiscal e a execução de reformas estruturais”, analisou Da Matta sobre o câmbio.
A semana de estabilidade demonstrou que os investidores brasileiros estão em busca de oportunidades seguras e rentáveis em um cenário de maior previsibilidade e controle de riscos.
“O mercado também acompanhou sinais de recuperação gradual da atividade econômica, com destaque para setores de consumo e crédito, que mostram resiliência apesar de desafios globais e internos.”
Falando em desafios globais, um dos destaques foi a “conversa de corredor” entre Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, e Donald Trump, presidente dos EUA, durante a Assembleia-Geral da ONU. Trump afirmou que houve uma “química excelente” entre os dois e afirmou que há a intenção de um encontro na próxima semana durante o seu discurso na cúpula.
No dia seguinte, Lula reiterou a afirmação de Trump durante o seu discurso, declarou que a negociação com os EUA envolve terras raras e que o Brasil não está disposto é se tornar um mero “exportador de minérios”.
Desde o anúncio da sobretaxa de 50% sobre produtos importados do Brasil pelos EUA, o governo tenta dialogar, sem sucesso, com a gestão de Trump. O diálogo entre eles pode ter sido “azeitado” por Joesley Batista e deu uma ponta de esperança para o mercado.
Entre outros destaques estão a estreia da MBRF na bolsa brasileira e um novo capítulo da história entre Assaí e GPA. Na sexta-feira (26), o Ibovespa encerrou a sessão em estabilidade com leve alta de 0,10%, aos 145.446 pontos. O dólar comercial caiu 0,46% e fechou o dia cotado a R$ 5,34.
Semana que chega: dados de emprego e declarações do Fed
A expectativa é de que a próxima semana seja mais intensa, com a divulgação de dados de emprego tanto no Brasil quanto nos EUA.
Para os norte-americanos, os dados vão dividir as atenções com os discursos programados pelo membros do Fed, “especialmente diante da divisão entre as
autoridades em relação ao diagnóstico dos riscos nos dois mandatos do banco
central americano — estabilidade de preços e pleno emprego”, analisa Leandro Manzoni, analista de economia do Investing.com.
O banco central dos EUA está dividido em dois grupos: os que apóiam a cautela nos cortes de juros do país, em concordância com Jerome Powell, e aqueles que enfatizam os números mais fracos de trabalho e o temor de fechamento de postos à frente, composto pelos diretores Stephen Miran, Michelle Bowmann e Christopher Waller, possível sucessor de Powell.
Devido a isso, os dados divulgados nessa semana, em especial os de payroll, na sexta-feira (3), tem chamado tanta atenção.
“Em linhas gerais, se a geração de empregos vier baixa e em linha com as projeções, o corte de 50 pontos-base deve continuar majoritário. Caso os números superem as expectativas, diminuirá a probabilidade de dois cortes de 0,25 ponto percentual nas reuniões restantes de 2025”, explicou Manzoni.
A projeção do mercado é de que sejam criados 39 mil postos de trabalho em setembro, levemente superior aos 22 mil de agosto, mas ainda insuficiente para que seja considerado um mercado de trabalho saudável. Já a taxa de desemprego deve permanecer em 4,3%.
No Brasil, os dados de emprego do Caged (o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de agosto começam a ser divulgados logo na segunda-feira (26). O ministro do Trabalho, Luíz Marinho, afirmou que a criação líquida deve ter sido menor que as 129.780 vagas geradas em julho, com o ano encerrando com 1,5 milhão de novos postos de trabalho.
Também na segunda-feira a a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulga o IGP-M de setembro, conhecido como inflação de aluguel. O Banco Central apresenta os dados de crédito de agosto, além do tradicional Boletim Focus.
A taxa de desemprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vem logo no dia seguinte (30). O último dado, de julho, registrou a menor taxa da série histórica, em 5,6%, além da massa salarial atingir seu ponto mais alto.
Segundo Manzoni, “esses dados do mercado de trabalho são relevantes para o Banco Central. Um dos fatores que mantêm as expectativas de inflação longe do centro da meta de 3% ao ano é um mercado de trabalho aquecido, especialmente no setor de
serviços, o que pressiona salários e, por consequência, os preços.”
O economista explicou que, apesar de a prévia do IPCA de setembro ter sido menor que o esperado, a inflação de serviços e seus núcleos mostraram taxa anualizada bem acima do teto de 1,5 p.p. (ponto percentual) sobre a meta, mesmo com o recuo mensal.
“A força do setor de serviços é um dos responsáveis pela atividade econômica estar acima de sua capacidade. Mensurada pelo hiato do produto, o Banco Central revisou esse indicador no segundo trimestre, de 0,5% para 0,7%, no último Relatório de Política Monetária (RPM), prevendo que a economia brasileira passe a operar abaixo da capacidade apenas no primeiro trimestre de 2027.”
Mesmo assim, o BC defende que existe uma moderação na atividade, conforme o apresentado tanto no RPM quanto na ata da última reunião.
Por isso, o mercado vai acompanhar, na sexta-feira (3), os dados
da produção industrial de agosto, cujo último resultado positivo foi registrado
em março.