
A tão esperada “Super Quarta” segue sendo o principal foco dos investidores nesta semana. No dia de decisão sobre juros tanto no Brasil quanto nos EUA, as expectativas em torno da percepção dos BCs (Bancos Centrais) permanecem no radar.
Na avaliação de Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC, deve manter a Selic (taxa básica de juros) inalterada. Já o economista e diretor da Nomos, Beto Saadia, projeta um aumento de 25 pontos-base na taxa.
Por que esperar taxa estável?
Patzlaff apoia sua tese nos indicadores econômicos divulgados recentemente, sobretudo de inflação. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) de maio registrou alta de 0,26%, acumulando 5,32% em 12 meses — número que veio abaixo das projeções de mercado e indica uma desaceleração inflacionária.
Com isso, o BC deve considerar o comportamento no curto prazo como um sinal positivo, mas ainda insuficiente para justificar uma flexibilização da política monetária neste momento. “Apesar de os juros já estarem em patamares elevados, o Banco Central deve adotar uma postura cautelosa, e o comunicado da reunião deve manter um tom levemente hawkish, reforçando a necessidade de manter os juros elevados por mais tempo”, disse Patzlaff.
“É provável que o Copom reforce o caráter ‘dependente de dados’ da política monetária, indicando que novas decisões dependerão da evolução dos indicadores fiscais, da atividade econômica e da inflação”, acrescentou.
Além disso, o ambiente internacional ainda impõe riscos, especialmente com a política externa menos previsível sob a presidência de Donald Trump, nos EUA, que pode afetar o câmbio e os preços das commodities.
Por que esperar alta da Selic?
Já para Beto Saadia, caso o Copom opte por manter os juros inalterados, uma alternativa será reforçar a sinalização de um cenário de juros elevados por um período mais prolongado do que o inicialmente previsto (higher for longer).
“Após a última reunião, o mercado chegou a considerar encerrado o ciclo de alta da Selic. No entanto, os fatores que vinham sustentando essa percepção se tornaram menos claros”, comentou Saadia.
A expectativa de desaceleração acentuada — ou até de recessão — nos EUA não se confirmou. As tarifas implementadas não provocaram o impacto negativo na atividade econômica que muitos previam. “Esse cenário reforça a manutenção de juros elevados por lá, o que também pressiona a política monetária no Brasil”, disse ele.
Além disso, a queda nos preços do petróleo foi interrompida com a recente escalada geopolítica no Oriente Médio, o que adiciona mais incerteza ao cenário inflacionário global.
No mercado interno, os dados mais recentes apontam para uma atividade econômica robusta, que levou à revisão das projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) para aproximadamente 2,5%. Para Saadia, é um patamar ainda inflacionário.
“Os sinais de pressão no mercado de trabalho indicam tendência de aumento nos salários, o que pode alimentar a inflação de serviços”, concluiu.