
Três meses após entrarem em vigor as tarifas de 50% impostas pelos EUA sobre cerca de 36% das exportações brasileiras para o país, os efeitos começaram a ser sentidos nos preços dos alimentos no mercado interno. No entanto, o impacto tem sido menor do que o esperado, segundo análise da DW e de outros especialistas.
O grupo de alimentos e bebidas do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) acumulou queda de 1,17% nos últimos quatro meses. Entre janeiro e maio, a inflação desse grupo tinha chegado a 3,82%, pressionando o orçamento das famílias e alterando hábitos de consumo — movimento apontado em reportagem da DW em março. No acumulado de 2024, os preços de alimentos e bebidas haviam subido 7,69%, acima da inflação geral do período (4,83%).
Quando o “tarifaço” foi anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no início de julho, economistas alertaram para um possível aumento nos preços domésticos. A lógica é que, com a restrição ao mercado americano, a produção brasileira poderia desacelerar, reduzindo a oferta interna e elevando o custo final ao consumidor. O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, foi um dos que sinalizou essa possibilidade na época, como lembrou o G1.
Assim, a preocupação era mais intensa para os produtos que permaneceram taxados mesmo após os EUA divulgarem uma lista de 694 exceções. Dentre ela há itens como carne, café e algumas frutas — entre elas uva e manga — tradicionalmente relevantes na pauta exportadora brasileira.
Efeito do tarifaço foi contrário a projeções
Até o momento, porém, o efeito inflacionário esperado não se concretizou na mesma magnitude. Especialistas ouvidos pela DW apontam fatores como:
- Safras favoráveis de algumas culturas;
- Estoques reguladores mantendo oferta estável;
- Redirecionamento parcial das exportações para outros mercados;
- Desaceleração da demanda interna, que reduziu a pressão sobre os preços.
Por fim, embora a situação tenha contribuído para aliviar os preços, analistas alertam que o efeito pode ser temporário. Além disso, também pontam que a dinâmica dependerá das próximas colheitas, da política cambial e da condução das negociações comerciais entre Brasil e EUA.