'Mágia' de fim de ano

Natal das Varejistas deve ter impulso nas vendas e nas dívidas

Selic e inflação altas - prometendo subir mais - e PIB também expansivo põe as varejistas em um cenário adverso neste fim de ano

Foto: CanvaPro
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Ramos, bolas vermelhas e douradas, luzes e muita expectativa decoram a maioria das unidades de redes varejistas no final de ano. Com a economia brasileira mostrando sinais de aquecimento, espera-se que as vendas aumentem, mas outros obstáculos podem deixar o Natal do varejo ainda mais vermelho.

Com a taxa de desemprego no País chegando ao menor nível da série histórica, especialistas indicaram que o aumento na renda deve fortalecer as varejistas nesse período. 

“Muitas pessoas “limparam o nome” em 2024, com parcelas baixas e/ou perdão de dívidas, essas pessoas retornaram ao mercado de consumo

com uma demanda reprimida”, afirmou Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk. 

Além disso, ele apontou que essa demanda pode ocasionar o retorno do endividamento dos consumidores no curto prazo, além de afetar a inflação e exigir uma postura mais rígida do BC (Banco Central).

Julio Monteiro, sócio da rede de franquias Megawatts e vice-presidente da ABF Rio, concordou com a análise de Sant’Ana e destacou que os setores essenciais e de alto apelo sazonal prometem despontar, enquanto outros segmentos o bens duráveis, eletrônicos e eletrodomésticos devem ser limitados pelos juros mais altos e encarecimento das parcelas.

“Varejistas que conseguem combinar promoções atrativas, maior eficiência logística e integração digital têm maior probabilidade de capturar a demanda”, afirmou.

Selic assombra Natal das varejistas

No mercado financeiro, as ações das varejistas estão na lanterna das divisões de performance na Bolsa, pois mesmo com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e oferta de emprego, a Selic (taxa básica de juros), o dólar e a inflação altos estão inflamando os preços e os custos. 

A expectativa de alguns especialistas do mercado é que o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC possa elevar a Selic em 1 p.p., o que a analista de Varejo da Levante Corp, Caroline Sanchez, será mais prejudicial para as empresas que têm alta alavancagem.

“No entanto, as empresas do setor que apresentam baixa alavancagem e uma geração de caixa sólida, devem se destacar positivamente”, acrescentou.

A analista destacou a Vulcabras (VULC3), como uma empresa que “gostamos da tese”, por conta de sua estrutura verticalizada, controla todas as etapas do processo até a venda final, e um dividend yield em torno de 12%. 

Em outra linha, Monteiro citou outra empresa já muito conhecida por todos os brasileiros no segmento de varejo: o Assai (ASAI3), por ser da alimentação básica e atacarejo. 

“Esses setores geralmente são menos sensíveis à alta de juros, pois atendem demandas de consumo essencial, que não são facilmente postergadas pelos consumidores, mesmo em cenários de aperto monetário”, disse ele.

Dívidas

As varejistas vivem um momento complicado com o tema dívidas, ao passo que algumas das principais marcas do segmento, Americanas (AMER3) e Casas Bahia (BHIA3) ainda enfrentam recuperações judiciais por débitos bilionários. O que se viu este ano, foi a rolagem desses passivos para o próximo ano, bem como renegociações e quitações de curto prazo.

“Não vejo um 2025 positivo para o varejo brasileiro enquanto a Selic continuar subindo e o dólar renovando máximas”, alertou Sant’Anna. 

O especialista também apontou ser provável que as companhias emitam novas ações em 2025, para fazer frente às dívidas, “o que pode levar alguns investidores a reduzirem 

posições ou até mesmo saírem dos papéis”.

Sanchez apresentou uma visão semelhante, reforçou que o mercado está cético quanto à quitação das dívidas diante das possibilidades para a Selic, o que deve fazer as varejistas mudarem de rota, reduzirem planos de expansão e venderem ativos para ajudar na alavancagem.

“No entanto, existem boas oportunidades de investimentos (embora não muitas) com empresas de varejo que se destacam por sua baixa alavancagem financeira e sólida geração de caixa”, disse Sanchez.

A analista de varejo salientou que as expectativas para este final de ano são moderadamente otimistas para essas “empresas resilientes”.