Consumo de alimentos

Nestlé: cultura impulsiona aumento de vendas no Brasil

Especialistas consultados pelo BP Money explicam porque as vendas mais expressivas da empresa ocorreram na região e projetam boas vendas na Páscoa

chocolate Nestlé com marcas de mordidas
Foto: Unsplash / Nestlé

No cotidiano ou em celebrações, o chocolate e outros doces conquistam os consumidores pelo paladar. O setor de alimentos se ancora nesse ritual para impulsionar as vendas. Como foi o caso da Nestlé, cujos números cresceram na América Latina, sobretudo no Brasil, aproveitando os hábitos e cultura da região, conforme explicam especialistas ao BP Money.

Segundo os dados apresentados pela Nestlé, o bloco geográfico foi responsável por uma receita de 12,2 bilhões de francos suíços no ano passado, aumento de 3,2%. No Brasil, o aumento teve apoio dos negócios de confeitaria, nutrição infantil e bebidas.

O Brasil carrega tradições familiares e culturais, muitas vezes ligadas à alimentação. Além disso, o crescente entendimento da população quanto à nutrição infantil e preferências regionais são combinações a que se pode atribuir a inclinação ao consumo de produtos desses segmentos.

Marlon Glaciano, gestor financeiro e especialista em investimentos, explica como a Nestlé tem usado essa relação para incentivar as vendas na América Latina.

“Essa tendência reflete uma adaptação bem-sucedida da Nestlé às preferências e necessidades do mercado latino-americano, mostrando a importância de entender e integrar-se às culturas locais no mundo dos negócios globais”, afirmou.

“Pensando comercialmente, a Nestlé tem investido em marketing e adaptação de produtos que atendem aos gostos locais, além de possuir uma vasta rede de distribuição que garante a disponibilidade destes produtos”, complementou, Glaciano.

Estratégias adotadas pela Nestlé

Bruno Corano, economista e investidor, concorda com a análise e estende os fatores culturais que atraem os consumidores aos produtos Nestlé. Ele observa que as empresas aproveitam a sazonalidade para alavancar as vendas. Como é o caso dos alimentos mais consumidos no verão, no carnaval, ou na Páscoa. 

Entre as vertentes dos resultados, a receita bruta caiu enquanto o lucro líquido cresceu. Glaciano diz que os dados podem ser atribuidos às medidas eficaze de gestão de custos e otimização operacional. Visto que, a estratégia da Nestlé para ampliação das vendas não engloba apenas o marketing.

“Isso pode incluir a redução de despesas, melhorias na eficiência da cadeia de suprimentos, e foco em produtos de maior margem. É importante citar também que a empresa pode ter se beneficiado de medidas de reestruturação, incluindo a venda de divisões menos rentáveis”, afirma.

Já Corano, associa os números à capacidade que as empresasm, no geral, têm demonstrado de repassar o custo inflacionário do valor dos produtos para preservar as margens. Em alguns segmentos da produção de alimentos, diz ele, as empresas tiveram concorrentes saindo do mercado, em razão da crise economica. 

“Isso é normal em momentos de crise e gera mais movimento. Se uma marca de margarina pequena sair do mercado, por exemplo, a demanda fica para quem permanece e para as grandes marcas”, explica.

Empresas brasileiras devem crescer

Para Corano, as projeções para as empresas do ramo são boas e não devem ser inferiores ao ano passado. Ele acredita que, em algum grau, as empresas que produzem alimentos da mesma linha que a Nestlé devem apresentar crescimento. 

Quanto às dificuldades que as redes do varejo enfrentam no momento – com os juros ainda altos, inadimplência, dívidas e prejuízos – o fato delas crescerem ou enfraquecerem não interfere nesses produtos, diz ele, pois as marcas se adaptam e migram a demanda de consumo. 

Já Glaciano afirma que os resultados das empresas brasileiras deste setor apresentam variações, por um reflexo dos desafios econômicos locais, bem como da adaptação e inovação no mercado. 

“Ressalto também que muitas dessas empresas têm se concentrado em expandir seu portfólio de produtos, explorar nichos de mercado e adotar práticas sustentáveis, o que pode contribuir para o seu desempenho positivo”, conclui. 

Valores dos ovos de Páscoa

O consumo de ovos de Páscoa e outros produtos à base de chocolate também são tradições e hábitos dos brasileiros. Contudo, nos últimos anos, os preços saltaram expressivamente. A instituição nota que, apesar do aumento de 3,8% nos valores em 2023, a porcentagem ainda seguiu abaixo da inflação (4,5%).

Nesse quesito, a APAS (Associação Paulista de Supermercados), prevê um crescimento nas vendas de ovos de Páscoa esse ano. Em comparação ao ano passado, espera-se um aumento de 4,5% no consumo. 

Para Felipe Queiroz, economista-chefe da associação, as melhoras nos indicadores de emprego, renda e crédito vão apoiar essa alta. Além disso, o ciclo de queda da Selic (taxa básica de juros), também contribui e incentiva o setor. 

“Os dados  de mercados de trabalho divulgados pelo IBGE apontam que o país encerrou 2023 com a  menor taxa média de desemprego desde 2014. Os programas governamentais de combate à inadimplência, sobretudo das famílias de menor renda, têm surtido efeito, de modo que a inadimplência das famílias e, não menos importante, o comprometimento mensal da renda das famílias com o serviço da dívida, isto é, pagamento de juros, tem caído”, analisou.