SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A perda de poder de compra provocada pela alta da inflação, junto a um crescimento econômico que se desenha cada vez menor, tem feito o endividamento das famílias brasileiras alcançar os maiores níveis dos últimos anos.
Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostram que, em setembro, o percentual de famílias endividadas na capital paulista atingiu 69,2%.
O nível de endividamento apontado pelo indicador no mês passado foi o maior desde dezembro de 2004, quando alcançou 69,7%, e já vem em trajetória ascendente ininterrupta desde o início do ano. Foram ouvidas cerca de 2,2 mil consumidores na capital paulista para a pesquisa.
Além disso, o resultado de setembro representa um aumento de 10,7 pontos percentuais em comparação com o mesmo período do ano passado, e de 2 pontos ante agosto.
Os dados apontam ainda que, entre as famílias que recebem até dez salários mínimos, a taxa de endividados atingiu 71,1%. Já para as famílias com ganhos acima desse patamar, o percentual cai para 63,5%.
As estimativas da FecomercioSP indicam que são hoje cerca de 2,76 milhões de lares com algum tipo de dívida no estado de São Paulo, um aumento de 81 mil em relação ao mês anterior, e de 442 mil em bases anuais.
Juros acima de 300% no cartão de crédito Neste cenário, a pesquisa aponta que a utilização do cartão de crédito acaba sendo uma das principais alternativas encontradas para a manutenção do consumo.
No mês passado, as famílias que declararam ter dívidas no cartão chegaram ao maior patamar da série histórica iniciada em 2004, de 81,1%, ante 80,7% em agosto, e 72,8% há um ano.
“Com a inflação subindo ao longo dos últimos 12 meses, as pessoas não conseguem mais comprar a mesma cesta de consumo e usam mais o cartão de crédito para parcelar essas compras, trazendo um alívio momentâneo e jogando as dívidas para frente”, diz Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP.
Frente aos juros cobrados na modalidade, no entanto, a saída muitas vezes acaba só aumentando o tamanho do problema.
Levantamento da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) revela que a taxa média de juros do cartão de crédito à pessoa física foi de 12,5% ao mês em agosto, chegando a 310,9% ao ano, no maior patamar desde março de 2018.
Inadimplência desigual Os dados da pesquisa da federação de comércio mostram também que a inadimplência avançou para 19% na capital paulista. Em agosto, o percentual havia sido de 18,8%, e de 18,1%, em setembro de 2020.
Na quebra por renda, contudo, a inadimplência chega a 22,9% entre aqueles com até dez salários mínimos, e cai para 8,9%, entre aqueles com faixa de renda acima desse patamar.
Em termos absolutos, são 759 mil famílias que não conseguiram pagar a dívida até a data do seu vencimento, de acordo com a FecomercioSP, sendo 10 mil a mais em relação ao mês anterior. Em setembro de 2020, eram 717 mil.
Dietze diz ainda que as perspectivas não são muito animadoras. “Temos uma inflação estrutural de oferta que vai continuar alta e seguir impactando o orçamento das famílias”, afirma o assessor.
Ele acrescenta que o pagamento do 13º salário no fim do ano pode trazer algum alívio, mas de caráter apenas pontual. Para 2022, a expectativa do especialista é por um quadro estaginflacionário, com inflação elevada e crescimento baixo pressionando o custo de vida das famílias, e, em especial, daquelas de menor renda.