O que define o preço do dólar?

Essa coluna procura explicar o que nos levou ao atual regime de câmbio flutuante

A relação entre as moedas brasileiras e o dólar sempre foi pauta no desenvolvimento da política monetária nacional. Muitas pessoas costumam saber pouco sobre a mecânica do fluxo de câmbio no nosso país e isso torna difícil a compreensão dos fatores que afetam o preço do dólar em reais (BRL). Hoje, essa coluna procura explicar o que nos levou ao atual regime de câmbio flutuante, como era no início do Plano Real e como essa dinâmica é afetada por outros componentes. 

Voltando a 1994, com o Plano de estabilização monetária do real “engatinhando”, as diretrizes do Banco Central haviam se voltado para preservar, pela primeira vez em anos de hiperinflação, a estabilidade cambial da nova moeda nacional. Isso justificou o início de uma política de “banda cambial”. Dentro dessa dinâmica, o preço do real em dólar deveria seguir a famosa (e saudosa, para alguns) paridade “1 para 1”. Significando, em termos simples, que o objetivo do órgão monetário brasileiro era fazer de tudo para que a nossa moeda equivalesse ao dólar no mercado internacional, com 1 USD custando 1 BRL. 

Os conceitos que cercam essa mecânica podem ser complexos, mas, como o objetivo aqui é simplificar, vamos usar o exercício da oferta e demanda novamente: Considere a demanda por dólares e reais constantes, o que altera o preço de um bem, dada a demanda fixa, é a oferta deste bem, certo? Em tese, o fluxo de dólares em uma economia define o valor da moeda daquele país em relação à americana.

Observando essas questões, manter a paridade “1 para 1” dependia do esforço do BCB em medir esse fluxo de moeda estrangeira e, para isso, a política de banda cambial funcionava assim: O BCB ia ao mercado com o que chamamos de reservas internacionais (uma reserva em títulos públicos em dólares e outras moedas fortes que servem como um “calço” de confiança na nossa economia) e, ao vender essas reservas controlava o fluxo de dólares. Simplificando, o Brasil comprava reais em dólar para aumentar a “razão” Dólar/Real no nosso mercado interno, mantendo a paridade desejada no câmbio (perdoem pela repetição de termos, mas é proposital).

Diversos problemas ocorreram durante esse processo, o grau de especulação e a Crise dos Tigres Asiáticos (1997) contribuíram para que se tornasse mais custoso manter a paridade da banda cambial. O mundo desenvolvido já havia abandonado essa política que, no Brasil, retirava a confiabilidade econômica ruindo o nosso volume de reservas internacionais (sim, elas são importantes e falarei delas em outra coluna).

Em 1998, Armínio Fraga assume o Banco Central do Brasil e, em 1999, desenvolve e propõe uma nova diretriz para a política econômica: O Tripé Macroeconômico. Nessa tríade de confiabilidade internacional, o país deveria alinhar fiscal, monetário e legislativo ao assegurar as três regras de Superávit Primário, Metas de Inflação e Câmbio Flutuante. Vamos deixar as duas primeiras de lado e focar na última.

No regime de câmbio flutuante, as preocupações com as reservas internacionais são bem menores. O fluxo cambial define, a partir da oferta e demanda, o valor da nossa moeda em relação às moedas estrangeiras. Para simplificar veja o esquema do próprio BCB a respeito do nossa política cambial: 

Foto: BCB