SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Belém recebe a partir desta segunda-feira (18) o Fórum Mundial de Bioeconomia, que pela primeira vez acontece fora da sede, na Finlândia. Na ocasião, o governo do Pará vai publicar um decreto com uma estratégia de longo prazo para o setor.
Segundo estimativa do BNDES, a bioeconomia brasileira movimenta cerca de US$ 326 bilhões (R$ 1,77 trilhão) ao ano.
O Brasil é considerado um dos países mais diversos do mundo, com mais de 42 mil espécies vegetais, mas está atrasado na adoção de políticas públicas para garantir o desenvolvimento econômico com a floresta em pé. Além de países da União Europeia que já possuem uma estratégia, a China deverá anunciar um plano nacional.
“Espero que o debate evolua para o nível federal. Hoje, 60 países têm uma bioestratégia em curso, parte importante na União Europeia, também o Japão, em breve a China, mas há poucas iniciativas na América Latina”, afirma o finlandês Jukka Kantola, fundador do fórum.
O plano de recuperação econômica pós-pandemia da UE, por exemplo, determina que os países-membros invistam em produtos e práticas bioeconômicas para poder acessar fundos de financiamento.
O primeiro dia do fórum terá a presença do vice-presidente Hamilton Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal. Em março, durante o Fórum de Davos, ele afirmou que o Ministério da Economia trabalhava em um novo projeto para a “Amazônia Verde”, a fim de melhorar o ambiente de negócios na região.
Com desmatamento recorde da floresta durante o governo Bolsonaro, Mourão defendeu que o futuro sustentável da Amazônia depende da ampliação da bioeconomia, e que isso será realidade apenas com a participação do setor privado.
“Todo mundo compartilha a preocupação com o desmatamento da floresta. Há desmatamento e sérios problemas ambientais também na África, na Indonésia, em vários lugares”, afirmou Kantola.
O evento foi trazido ao Brasil porque Belém é considerada a porta de entrada da Amazônia, região com a maior diversidade do mundo.
Há alguns anos, o Pará implementa iniciativas ligadas à bioeconomia, mas ainda há pouco entendimento sobre o que esse segmento representa. A expectativa dos organizadores é difundir o conceito e conseguir engajar diferentes setores da sociedade em torno do tema.
Em termos gerais, bioeconomia é o conjunto de atividades econômicas baseadas em recursos naturais renováveis, não fósseis. O conceito defende a exploração de florestas sem desmatamento e alia a produção de alimentos e mercadorias industriais e farmacêuticas à geração de valor e emprego nas comunidades locais.
São exemplos populares no Brasil o etanol, a fibra de celulose aplicada na cadeia têxtil, o bioplástico e o açaí, que gera retorno financeiro direto aos agricultores da Amazônia.
Para o inglês Mark Rushton, cofundador do fórum, o consumo está cada vez mais atrelado à sustentabilidade, o que coloca o setor privado como um dos principais agentes na bioeconomia.
“A geração mais jovem não acredita mais em políticos, na mídia, eles olham para marcas e indústrias e se questionam sobre a responsabilidade delas antes de consumir. As empresas brasileiras são bem representativas nesse aspecto, e é um dos motivos de termos escolhido o Brasil”, disse.
Além de governo, bancos e de líderes globais como Christian Patermann, “pai da bioeconomia” e ex-diretor da Comissão Europeia, o fórum reunirá presidentes e executivos de companhias como Klabin, Natura, Suzano, Ford, Lego e Bayer.
Outros estados do Norte têm intensificado o debate sobre bioeconomia nos últimos anos. O Amazonas tem estratégias estaduais para alavancar o setor.
Um estudo do Instituto Escolhas, de 2019, evidencia o contrassenso que é estimular a economia para fora da região amazônica, como acontece com a Zona Franca de Manaus, enquanto o crescimento regional foi retardado em relação a outras áreas.
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SAIBA MAIS
– Bioeconomia é o conjunto de atividades econômicas baseadas em recursos naturais renováveis. O conceito defende a exploração de florestas sem desmatamento e alia a produção de alimentos e mercadorias industriais e farmacêuticas à geração de valor e emprego nas comunidades;
- A fabricação de alimentos e bebidas responde por 46% da participação das vendas provenientes da bioeconomia sem o setor primário;
- No mundo, as vendas derivadas da bioeconomia brasileira são da ordem de US$ 326 bilhões;
- No Brasil, os ganhos atribuídos ao setor são de cerca de US$ 286 bilhões;
- Na UE, a bioeconomia supera 2,1 trilhões de euros;
- Exemplos de produtos ligados à bioeconomia brasileira: fibra de celulose aplicada na cadeia têxtil, bioplástico, indústria do açaí, fio de borracha natural para moda e design, chocolate produzido a partir do cacau selvagem e materiais biotecnológicos aplicados à construção civil.