Impulso ao corte de juros

Payroll deve convergir com dados que indicam desaquecimento

Na avaliação de especialistas, resultado abaixo do esperado é positivo para a política monetária, mas enfraquecimento da economia preocupa

Times Square, em Nova York
Times Square, em Nova York / Foto: Wikipedia

O mercado aguarda ansiosamente a publicação de um dos relatórios mais importantes da economia dos EUA: o payroll, na sexta-feira (7). As expectativas são de abertura de 185 mil vagas, acima do resultado de 175 mil em abril.

Na avaliação de especialistas ouvidos pelo BP Money, porém, o resultado deve vir abaixo do esperado, convergindo com outros indicativos de desaquecimento da economia norte-americana.

“Levando em consideração um cenário em que tivemos um PIB abaixo do esperado, PMI de Chicago, PMI ISM e o relatório Jolts que também mostraram uma diminuição da atividade nos EUA, tudo indica que teremos um payroll abaixo desses 185 mil”, explicou Jefferson Laatus, estrategista-chefe da Laatus.

O PIB dos EUA referente ao primeiro trimestre de 2024 foi revisado para baixo, passando de um crescimento de 1,6% para 1,3%. Já o PMI de Serviços dos EUA, divulgado pelo ISM, caiu para 49,4 em abril, a menor leitura desde dezembro de 2022. 

O relatório Jolts, por sua vez, também trouxe resultados com indícios de desaquecimento da atividade: a abertura de 8,059 milhões de vagas em abril marcou o menor nível desde fevereiro de 2021.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, também chamou atenção para o relatório ADP, que, segundo ele, trouxe uma “expectativa sobre o que vai acontecer com o payroll”.

O relatório em questão, divulgado na quarta-feira (5), apontou para a criação de 152 mil vagas de emprego no setor privado em maio, número abaixo do 175 mil esperado por analistas.

“O mercado de trabalhos dos EUA está aquecido, mas vem divulgando dados que indicam cada vez menos geração de empregos. Isso é bom para apoiar a queda de juros do Fed“, pontuou Cohen.

Além da taxa de desemprego abaixo do esperado, Volnei Eyng chamou atenção para a criação de postos de trabalho, que também está em patamares menores. Isso, segundo ele, faz com que mais pessoas mudem de emprego em busca de salários melhores.

“Com certeza o payroll virá aquecido em pessoas mudando de emprego. A geração de empregos e o saldo deve vir abaixo e deve aumentar a possibilidade de duas baixas de preço este ano. Este número deve aquecer após sexta-feira”, avaliou Eyng.

Segundo Paulo Gala, economista-chefe do banco Master, os últimos dados são positivos no sentido de equilíbrio do mercado de trabalho.

“Finalmente aquela relação job openings, vagas abertas por número de desempregados, está se aproximando de 1:1, que é, aliás, o teto histórico. Quando está acima de um, quer dizer o mercado está muito forte, essa era a situação há alguns meses nos EUA”, disse Paulo Gala.

Segundo o economista-chefe do Master, hoje, o país tem uma relação de 1,24 vagas para cada desempregado, o menor nível desde a pandemia. “É esse tipo de número que o Fed está olhando para começar a cortar as taxas de juros”, pontuou.

Mercado de trabalho suavizado e economia desaquecendo: bad news is good news?

“Em termos de política monetária, um payroll abaixo do esperado é muito positivo porque, se o mercado de trabalho está desacelerando junto com o PIB, mostra que a taxa de juros atual está fazendo o efeito que vem se buscando ao longo do ano”, disse Laatus sobre as expectativas em relação ao relatório na sexta (7).

Segundo Jefferson, o resultado pode ajudar a acelerar o processo de política monetária e o início de cortes de juros em setembro. “Antes, não há cenário para isso. A dúvida é se acontecerá em setembro ou novembro e se serão um ou dois cortes”, disse.

O desaquecimento, porém, é um sinal vermelho para a economia no geral. De acordo com o estrategista da Laatus, apesar de almejar o corte de juros, a desaceleração, em termos de atividade, não é bem-vinda.

“Vai gerar desemprego, desaceleração da indústria e redução do consumo, tudo que o Fed quer para cortar os juros, mas tudo que a economia não quer”, destacou.

Na avaliação de Cohen, portanto, há risco de uma recessão iminente nos EUA, já que os dados não têm sido suficientes para fazer as bolsas subirem.

“A visão que o mercado está tendo aos poucos é que mesmo com uma redução dos juros pelo Fed, não será suficiente para reaquecer a economia. Então, existe, sim, uma possibilidade mínima de uma recessão iminente, pequena, nos EUA”, pontuou Rodrigo.