A B3, Bolsa de Valores brasileira, anunciou na última quarta-feira (1º) a prévia da carteira para 2022 do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), que reúne companhias com boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.
Empresas com problemas socioambientais no histórico e que fazem parte da versão atual do índice, como a Petrobras, o supermercado Assaí e os frigoríficos Marfrig e Minerva Foods, ficaram de fora da nova seleção.
Ao todo, 17 papéis foram eliminados do índice (veja lista completa abaixo), mas nem todos significam a exclusão da companhia. Em alguns casos –como o do Bradesco e o do Itaú–, as ações ordinárias saíram, mas as preferenciais foram mantidas.
Segundo a B3, as empresas podem ter deixado a carteira por dois motivos: porque não se inscreveram para a seleção ou por não atingir os critérios estabelecidos. No entanto, os detalhes sobre cada circunstância não foram disponibilizados.
Em julho deste ano, a Bolsa anunciou mudanças na metodologia do ISE, que passou a incorporar critérios internacionais de ESG (sigla em inglês para os princípios ambientais, sociais e de governança).
Um deles é o CDP (Carbon Disclosure Project), iniciativa que avalia políticas relacionadas a mudanças climáticas. Para integrar o índice, as empresas precisam ter nota superior a C.
Outra novidade é a utilização do RepRisk, que indica o risco reputacional de uma companhia. Nesse caso a pontuação precisa ser igual ou menor a 50 pontos.
O desempenho de cada organização ainda não foi publicado, mas essas informações estarão disponíveis a partir do ano que vem –inclusive a nota daquelas que não foram selecionadas para a carteira.
Ainda que a B3 não confirme o motivo de cada exclusão, algumas empresas disseram ter desistido de participar da nova seleção. É o caso da Petrobras.
A empresa integra a atual carteira do índice de sustentabilidade, apesar dos questionamentos socioambientais. Além de ser uma produtora de combustíveis fósseis –considerados um dos principais vilões da crise do clima–, a petroleira divulgou recentemente um novo plano de investimentos que ignora a transição energética e a produção de renováveis.
“Em função da mudança de metodologia de avaliação do ISE, a Petrobras optou por não participar da seleção”, disse em nota.
Outra companhia que faz parte do índice atualmente, mas não participou da nova seleção é o Assaí.
A rede atacadista disse que está na carteira do ISE de 2021 porque era uma subsidiária do GPA (Companhia Brasileira de Distribuição), mas com a cisão das empresas, em março deste ano, as ações foram desvinculadas.
“O Assaí não se submeteu ao ISE este ano [para carteira de 2022] porque o questionário era referente ao exercício de 2020. Assim, suas evidências e seus históricos ainda não eram como uma empresa independente, mas como subsidiária”, afirmou em nota.
Em agosto deste ano, o Assaí teve sua agenda ESG questionada, quando um homem negro foi obrigado a tirar a roupa dentro de uma unidade do supermercado em Limeira (SP) para provar que não estava furtando nenhum produto.
Na época, analistas disseram que o caso indicava como o ESG estava longe de ser colocado em prática no mundo corporativo.
Considerado um dos principais referenciais de sustentabilidade do mercado financeiro, o ISE também não está imune a críticas sobre desmatamento. Dois dos três maiores exportadores de carne do Brasil, a Minerva Foods e a Marfrig, integram a versão atual do índice.
Em dezembro de 2020, a ONG britânica Global Witness disse que os dois frigoríficos haviam comprado gado de fazendas com desmatamento ilegal. Na época, as empresas negaram as irregularidades.
A Minerva Foods não comentou a saída do índice, mas disse que segue empenhando esforços na cadeia de valor do agronegócio, em especial no combate ao desmatamento ilegal e às mudanças climáticas.
“Um tema prioritário para a companhia é garantir o fim do desmatamento ilegal em toda a cadeia de abastecimento na América do Sul até 2030”, afirmou em nota.
A Marfrig foi procurada para comentar a exclusão do índice de sustentabilidade, mas não retornou até a publicação desta reportagem.
Com metodologia mais rigorosa, o novo ISE tem menos questionamentos ESG, mas alguns ainda permanecem. Um deles é em relação à entrada da Braskem na carteira de 2022.
A petroquímica tem avaliação ruim no MSCI, um dos principais sistemas de classificação (rating) ESG do mercado, que aponta fragilidades da empresa em temas como governança corporativa e emissões tóxicas.
Além disso, a nova participante está ligada a um desastre ambiental em Maceió, que atingiu cerca de 57 mil pessoas. Em janeiro de 2018, a exploração de sal-gema pela Braskem provocou o afundamento do solo em diversos bairros da capital alagoana.
Sobre o caso, a empresa afirmou em agosto que atua “na zeladoria e apoio à segurança nas regiões atingidas” e que adquiriu equipamentos de monitoramento sismológico. “Também estão previstas medidas de compensação dos impactos ambientais e indenização para danos coletivos”, afirmou em nota.
A B3 foi questionada sobre a entrada da Braskem na carteira do ISE, mas disse que não comenta casos específicos.
Veja a nova carteira do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial)
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