Dificuldades nos avanços nas negociações para um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia começam a soterrar o otimismo dos últimos dias, que vinha colaborando principalmente com a queda do petróleo no mercado internacional.
Nesta quinta-feira (17), a cotação da matéria-prima voltou a disparar após cinco quedas em seis dias. Às 13h20, o barril do petróleo Brent saltava 8,92%, a US$ 106,76 (R$ 547,47). A commodity volta a ganhar valor devido à expectativa de investidores sobre um horizonte de retomada econômica pós-pandemia no qual a redução prolongada da oferta da Rússia poderá resultar em escassez.
A guerra na Ucrânia entrou na quarta semana e, apesar de anúncios de progressos nas negociações, bombardeios russos seguem castigando áreas civis das maiores cidades ucranianas.
“Isso mostra que não estamos no fim desse conflito, que a situação dos preços das commodities não vai melhorar, o que dificulta o sentimento”, disse Esty Dwek, diretor de investimentos do FlowBank, ao The Wall Street Journal.
O mercado europeu também demonstrava o desânimo com as negociações para o fim da guerra no continente. Bolsas de Paris e Frankfurt caíam 0,31% e 1,05%, nessa ordem. Londres subia 0,66%.
No Brasil, a Bolsa de Valores subia 0,93%, a 112.146 pontos. O dólar recuava 0,90%, a R$ 5,0460. Investidores estrangeiros costumam buscar lucros no setor de commodities brasileiro, o mais importante do Ibovespa. Esse movimento de entrada de dólares na Bolsa é importante para o alívio na taxa de câmbio.
Um dia após o Banco Central ter anunciado uma alta de 1 ponto percentual da taxa Selic, agora em 11,75% ao ano, o Brasil também continua a oferecer a investidores uma relação muito vantajosa entre juros e a expectativa de inflação anual, estimada em 6,45%. Isso significa que, para investidores internacionais, também vale a pena tomar crédito barato no exterior para lucrar com os juros brasileiros.
Petroleiras e mineradoras brasileiras lideravam os ganhos na Bolsa nesta manhã, mas a Petrobras não acompanhava. A companhia controlada pelo governo recuava 2,17%. O mega-aumento dos combustíveis voltou a colocar o presidente Jair Bolsonaro (PL) em rota de colisão com a diretoria da empresa.
Nos Estados Unidos, as bolsas oscilavam perto da estabilidade. Os índices Dow Jones e S&P 500 subiam 0,14% e 0,11%, respectivamente. A Nasdaq caía 0,01%.
Na véspera, o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) anunciou a primeira elevação da sua taxa de juros desde 2018. O aumento de 0,25 ponto percentual era esperado por analistas. Também houve a indicação de mais seis altas até o fim do ano.
Apesar de duro, o comunicado do Fed deu certa previsibilidade sobre os próximos passos da autoridade monetária na sua estratégia para tentar frear a maior inflação no país em 40 anos.
Elevações dos juros nos EUA podem resultar na saída de investidores do Brasil, uma vez que o retorno do investimento no Tesouro americano melhora.
Analistas avaliam, porém, que os juros americanos seguem muito baixos -entre 0,25% e 0,5% ao ano- e isso não deverá provocar fuga de capital no curto prazo.
O nosso diferencial [relação entre nossa taxa Selic e a inflação doméstica, comparada ao exterior] ainda é atrativo e esse comportamento mais favorável do dólar pode continuar no curto prazo”, disse Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Ainda sobre a perspectiva de aquecimento das cotações das commodities, esse setor também ganhou fôlego nos últimos dias porque a China anunciou medidas de apoio ao mercado.
A promessa de Pequim provocou forte recuperação nas principais Bolsas da Ásia, que vinham afundando devido ao avanço dos casos de Covid-19 em algumas das principais cidades chinesas.
Os contratos futuros de minério de ferro também subiram nesta quinta. É a terceira sessão consecutiva de alta. A China é o principal consumidor desse material, além de maior produtor de aço.
A Bolsa de Hong Kong disparou 7,04%. O índice que acompanha ações de empresas chinesas listadas em Xangai e Shenzhen subiu 1,96%. No Japão, a Bolsa de Tóquio ganhou 3,46%.