O Brasil registrou um crescimento de 3,4% no PIB de 2024, superando as expectativas do mercado e mantendo a tendência de expansão da economia pelos últimos quatro anos consecutivos.
No entanto, especialistas alertam que, apesar do resultado positivo, esse crescimento pode ser insustentável, especialmente por estar impulsionado pelo consumo elevado e políticas fiscais expansionistas, o que gera preocupações em relação à inflação e à saúde a longo prazo da economia brasileira.
Rubens Cittadin, analista da Manchester Investimentos, ressalta que, apesar do bom desempenho do PIB, o crescimento não reflete um aumento de produtividade real, mas sim o aumento dos gastos públicos, o que levanta um questionamento sobre a sustentabilidade desse crescimento.
“Esse PIB de 3,4% é expressivo, mas não está relacionado a um aumento de eficiência ou produtividade, mas sim ao aumento do gasto público, o que tem impacto direto na inflação”, afirmou.
Cittadin também observa que o governo está estimulando a economia por meio de gastos fiscais, o que tende a pressionar a inflação e, consequentemente, a exigir juros mais altos para controlar o consumo.
“O impacto disso será um crescimento que pode ser acelerado de forma não saudável, gerando mais inflação e juros elevados”, completou.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, compartilha a mesma preocupação em relação à sustentabilidade do crescimento. Para ele, o Brasil está crescendo além de sua capacidade potencial, o que está gerando pressões inflacionárias e elevando a necessidade de juros mais altos.
Para o especialista, o Brasil está crescendo além do seu potencial, o que pode ser insustentável. O analista explica que esse crescimento tem potencial de gerar mais inflação e exigir juros mais altos para controlar esse consumo excessivo.
“Isso é um problema para a sustentabilidade desse crescimento, mostra que o crescimento que a gente viu em 2024 e até mesmo em 2023, mas em 2024 certamente, ele tem contornos não só de insustentabilidade, mas também de pouca saúde, pouca saúde no crescimento. “
Spiess também destaca que o setor agrícola, tradicionalmente um dos principais motores do crescimento brasileiro, foi um detrator no desempenho de 2024, sinalizando que a base do crescimento está desequilibrada e não é saudável a longo prazo.
Inflação alta e juros elevados: consequências para a economia
O crescimento do PIB, impulsionado principalmente pelo aumento do consumo das famílias, está colocando uma pressão crescente sobre a inflação.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, que fechou em 4,83%, ficou acima do teto da meta de 4,5% estabelecido pelo Banco Central, um reflexo claro do consumo aquecido e da pressão inflacionária.
Cittadin alerta que, com o aumento da inflação, o Banco Central será forçado a manter a taxa de juros em patamares elevados, o que pode acabar travando o crescimento no futuro. “Com mais inflação, o Banco Central vai continuar aumentando os juros, o que vai dificultar ainda mais a geração de crescimento produtivo. O risco é que a economia se torne mais restrita, com o dinheiro ficando mais caro”, disse.
Spiess também vê a manutenção dos juros altos como um fator limitante para o crescimento sustentável.
“Com a taxa de juros elevada, o governo vai encontrar dificuldades para manter esse nível de crescimento no futuro. O ciclo de juros altos vai desacelerar a atividade econômica e limitar as perspectivas de crescimento saudável”, completou o analista.