"Cenário inflacionário exige cautela"

PIB expande, mas desaceleração é esperada em meio a estresse fiscal

Especialistas ouvidos pelo BP Money alertam que a recuperação pode enfrentar desafios nos próximos meses

Foto: Cavna
Foto: Cavna

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil registrou um crescimento de 0,9% no terceiro trimestre de 2024 em comparação com o trimestre anterior, refletindo um desempenho robusto da economia. 

No entanto, especialistas ouvidos pelo BP Money alertam que a recuperação pode enfrentar desafios nos próximos meses, especialmente devido ao cenário fiscal e à necessidade de um ajuste nas políticas monetária e fiscal.

De acordo com Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, os dados indicam que, apesar da alta, o desempenho da economia tende a desacelerar no futuro próximo. 

“Até o encerramento de setembro, a economia ainda apresentava um desempenho bastante robusto. No entanto, o ciclo anterior de juros mais baixos, que ajudou a impulsionar os investimentos, chegou ao fim, e a pressão fiscal exige uma política monetária mais restritiva, o que levará a um ritmo de crescimento mais modesto”, afirmou Salto. 

O especialista estima que, até o final de 2024, o PIB deve crescer acima de 3%, mas em 2025, a taxa de expansão pode cair para cerca de 2%.

Ações do governo e impactos no mercado

O cenário fiscal permanece uma preocupação central, com o governo tentando equilibrar as contas públicas. Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, observa que, embora o pacote fiscal anunciado tenha como objetivo a sustentabilidade das finanças públicas, ainda é incerto seu impacto imediato. 

“O efeito do pacote fiscal vai depender da implementação eficaz das medidas. O governo está tentando equilibrar austeridade fiscal com estímulos ao crescimento, mas um novo aumento nos juros, como o esperado, pode afetar diretamente o consumo e a atividade econômica”, destacou Monteiro.

Além disso, o impacto das medidas fiscais será crucial para controlar a inflação e garantir a estabilidade do crescimento. 

Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, também alerta para a pressão do câmbio. “O aumento do dólar, com a moeda americana ultrapassando os R$ 6, traz um risco adicional, afetando as importações e gerando repasses inflacionários. O pacote fiscal focado em ajuste estrutural pode ajudar, mas é essencial que as medidas sejam bem calibradas”, afirmou Lima.

Inflação e taxas de juros

A inflação continua sendo um fator importante no desempenho do PIB. A necessidade de combater os altos níveis de inflação tem levado o Banco Central a adotar uma postura mais contracionista, com a expectativa de novos aumentos na taxa Selic. 

Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, observa que o aumento do dólar e a incerteza econômica resultante do ajuste fiscal podem pressionar o BC a acelerar o ciclo de aumento da taxa de juros. 

“Embora o PIB tenha apresentado crescimento, o cenário inflacionário exige cautela. O Brasil precisa equilibrar o estímulo ao crescimento com o controle da inflação, o que pode levar a um ambiente de juros mais altos e crescimento mais lento no futuro”, afirmou Vasconcellos.

Apesar das preocupações com o cenário fiscal e a inflação, alguns setores da economia continuam a apresentar boas perspectivas de crescimento. Paulo Martins, CEO da Anova Research, destaca que setores como energia, saneamento e imobiliário apresentam boas oportunidades. 

“Embora a correção do mercado tenha impactado negativamente os investidores de varejo, grandes investidores continuam comprando estrategicamente, o que pode resultar em oportunidades para esses setores nos próximos anos”, afirmou Martins.

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