Cada vez mais popular no Brasil, o Pix começa a ser discutido por bancos e fintechs, juntamente ao Banco Central (BC). O objetivo é criar medidas adicionais de segurança para tentar frear o aumento dos golpes na modalidade e mitigar riscos para clientes e instituições.
Algumas das propostas em debate para aumentar a segurança do Pix são: definição do limite original de transação pelos próprios bancos, maior rigor na abertura de contas e ampliação da troca de informações sobre o nível de risco de determinados CPFs.
Em maio, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou sobre sua preocupação com o tema, durante audiência na Câmara dos Deputados. De acordo com ele, a autoridade monetária busca coibir as chamadas “contas laranjas” – quando alguém abre uma conta utilizando documentos de outra pessoa ou um indivíduo empresta sua conta para um fraudador.
Pix tem crescimento exponencial
No mês passado, a modalidade já registrava 128,7 milhões de usuários cadastrados e 454,5 milhões de chaves. Segundo os dados comparativos mais recentes do BC, no último trimestre de 2021, foram realizadas mais transações via pagamento instantâneo no país (3,89 bilhões) do que por meio do cartão de débito (3,85 bilhões) ou de crédito (3,73 bilhões).
Vale salientar que não há um levantamento oficial sobre os golpes com Pix, até porque, na tipificação usada pela Polícia Civil, na maioria das vezes eles entram como “extorsão”, junto com diversos outros tipos de crimes parecidos.
Entretanto, o delegado do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), André Junji, afirma que é possível perceber o aumento na incidência de golpes envolvendo o Pix.
“Infelizmente, aumentou sim. É uma facilidade que foi criada para a população, mas se tornou uma nova forma de os criminosos obterem recursos. O dinheiro cai na hora na conta e, assim que isso acontece, já tem alguém lá na outra ponta esperando para tirar.”
Leandro Vilain, diretor de negócios e operações da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), aponta para um aumento nos golpes, mesmo sem dados oficiais divulgados pelas autoridades.
“Sem sombra de dúvida é uma tendência de alta. O Pix é um sucesso absoluto, inclusive bancarizou muita gente, e não se esperava no início que fosse usado como um mecanismo pelas quadrilhas”, disse Vilain, segundo o Valor Econômico.
Fintechs buscam se proteger dos golpes
A Zetta, que representa fintechs como Nubank e Mercado Pago, diz que as associadas investem constantemente em tecnologias para aumentar a segurança dos produtos e que não há dados que indiquem uma maior incidência de contas laranjas em instituições de pagamento.
Segundo a associação, a mesma propôs uma ampliação da troca a ampliação da troca automatizada de informações utilizando a infraestrutura dos pagamentos instantâneos. A ideia é que esses dados de golpes no Pix, em base operada pelo BC, sejam mais detalhados sobre o nível de risco de um CPF ou chave.
“A solução vem do uso intensivo de tecnologias inovadoras no âmbito da prevenção nos canais digitais, com a ampliação do uso de reconhecimento facial para validação de identidade e prova de vida, assim como a utilização de modelos de inteligência artificial para avaliação de risco”, destacou a Zetta.
Uma medida sugerida pela Febraban ao BC é que o limite original para transações no Pix seja definido pelas próprias instituições financeiras, que conhecem o cliente melhor do que ninguém. Atualmente, ele é definido com base na mesma regra da TED.
Porém, vale destacar que a TED só funciona em horário comercial e a efetivação da transação demora até 30 minutos, o que significa que no caso de algum sinal de irregularidade o banco tem tempo para bloquear a transferência.
Em agosto do ano passado, o BC divulgou uma série de medidas para elevar a segurança do Pix, como limites menores para as operações noturnas, a possibilidade de o próprio cliente reduzir seus limites ou mesmo só permitir transferências para contatos previamente cadastrados.
Em novembro, também entraram em vigor outras duas medidas para tornar o Pix mais seguro. O bloqueio cautelar e o Mecanismo Especial de Devolução.