SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em vez de mudar de imóvel se o apartamento está grande ou pequeno demais para o momento dos moradores, ter a possibilidade de aumentar ou diminuir a área da sua residência. Essa é a ideia da empresa Molegolar, criada no Recife, dentro da incorporadora Suassuna Fernandes.
Para permitir esses arranjos, a companhia projeta prédios que podem ser vendidos em módulos de determinada área. Cada um pode ser um apartamento completo, ou formar unidades maiores.
“O que o comprador quiser no prédio vai ter, é só combinar a quantidade de módulos necessários”, afirma Saulo Suassuna Filho, fundador da empresa.
Em um edifício no qual os módulos são de 50 metros quadrados, por exemplo, é possível ter unidades de 50, 100, 150 ou mais metros quadrados, conjugadas na horizontal ou verticalmente como um jogo de blocos de montar.
A Molegolar já ergueu três prédios no Recife com essa tecnologia, inaugurados de 2019 a 2021, e agora tenta expandir a ideia a outras regiões.
Mais dois empreendimentos estão em construção na capital pernambucana.
Segundo Suassuna Filho, além de atender às necessidades dos moradores, os módulos podem gerar renda.
Quem comprou quatro módulos de 50 metros quadrados, por exemplo, mas só vai usar 100, pode alugar os demais módulos ao convertê-los em unidades separadas.
Se precisar de mais espaço, basta retomar a área locada e reintegrá-la à casa original. As plantas são pensadas para que esse tipo de reforma seja mais simples do que a união de apartamentos que não foram planejados para isso.
Suassuna Filho recomenda a utilização de paredes de drywall, fáceis de serem removidas e reconstruídas. A empresa também tem tecnologia própria, a molegobloco: as paredes são construídas com blocos de cimento desmontáveis, que podem ser reencaixados posteriormente. Tubulações e instalações elétricas são planejadas para não interferir nessas reformas.
A incorporadora Tecnisa usa a consultoria da Molegolar para fazer ajustes nas plantas, no subsolo e nas áreas comuns dos empreendimentos.
Alexandre Mangabeira, diretor-executivo de incorporação da Tecnisa, diz que deve começar a construir prédios com plantas modulares em 2022 e que é interessante investir no segmento porque esse tipo de desenho permite a repetição, gerando ganhos de escala em projetos, execução e compra de insumos.
“A ideia das plantas modulares é permitir que as unidades possam sofrer junções ou divisões de forma inteligente, sem plantas irracionais e com layout inadequado”, afirma.
A Molegolar é uma iniciativa mais radical de plantas flexíveis, mas não é a única.
A incorporadora Vitacon lançou o Pixel Life, projeto de estúdios também vendidos como módulos, podendo ser unidos às unidades vizinhas de forma a ampliar a área de cada apartamento.
Segundo Alessandra Miura, diretora da Vitacon, os compradores poderão montar suas casas, “como em um jogo de tetris”, fazendo junções verticais ou horizontais.
O primeiro prédio da empresa com essa tecnologia deve ser inaugurado ainda no início deste semestre em São Paulo. Há unidades em construção nas regiões de Santo Amaro, Bela Vista e Vila Mariana.
Assim como no caso da Molegolar, para conseguir fazer uma ampliação o comprador já precisa comprar mais unidades do que pretende utilizar em um primeiro momento ou ter a sorte de conseguir adquirir uma unidade vizinha quando quiser aumentar o espaço.
A incorporadora Huma aposta em uma solução parecida. A empresa percebeu que a junção de apartamentos era uma forma de tornar o produto atrativo para um consumidor que inicialmente não se interessaria pela unidade, e uma oportunidade de vender estoques.
No empreendimento Forma Itaim, 16 apartamentos que já estavam prontos foram vendidos após terem sido convertidos em oito unidades.
Quando foi a vez de criar outro empreendimento, o Huma Itaim, que está em fase final de construção, o projeto de arquitetura já foi pensado de forma a permitir uma variedade maior de plantas, partindo de unidades básicas, como a junção de um dúplex com um estúdio.
Cristiane Muniz, diretora da Escola de Cidade e sócia do escritório Una MunizViegas, que fez o projeto do edifício, afirma que essa flexibilidade nas plantas é uma forma de trazer mais diversidade aos empreendimentos.
“Você pode ter configurações familiares muito diferentes dentro de um mesmo edifício”, diz.
Ela explica que já costuma desenhar as plantas de forma que mudanças na posição dos ambientes possam ser feitas pelos moradores posteriormente, então as instalações elétricas e hidráulicas sempre ficam em locais estratégicos, que facilitam essas alterações.
“Quando você desenha um edifício no qual todas as unidades podem se juntar, é o mesmo raciocínio, mas em escala do prédio todo”, diz a arquiteta.
O lado negativo da conjugação de unidades é a dificuldade para conseguir financiamento bancário, afirma Rafael Rossi, fundador da Huma.
Ele explica que os clientes que compraram imóveis em empreendimentos da sua companhia para serem unidos em uma só planta fizeram isso com recursos próprios, já que os bancos se negam a aprovar financiamento de duas matrículas (o registro de cada apartamento). Seria inviável retomar apenas parte do imóvel em caso de falta de pagamento.
Segundo o empresário, se a incorporadora fizer a união das unidades antes que o empreendimento receba o Habite-se, avisar a prefeitura e só uma matrícula for gerada, não há problema para conseguir financiamento. É o que foi feito no Huma Itaim.
“A junção tem seu lado bom e ruim, ela permite que você atinja uma gama maior de compradores, seja pela tipologia ou pela metragem, mas por outro lado dificulta ou quase inviabiliza financiamento imobiliário”, diz Rossi.
A incorporadora também precisa seguir as diretrizes municipais de urbanismo, que podem limitar o aproveitamento do terreno ou exigir um número mínimo de unidades no local.
Para Rossi, se o morador decidir unir mais de uma unidade depois que o prédio foi entregue, não estaria indo contra essas regras, já que cada apartamento tem sua matrícula separada.