BC destoa no discurso

Política monetária dita tom das bolsas nesta e na próxima semana

Enquanto o Fed confirma corte de juros, autoridades do BC não alinham discurso

Bolsas globais/ Foto: CanvaPro
Bolsas globais/ Foto: CanvaPro

O Ibovespa surfou numa onda positiva nos pregões entre 19 e 23 de agosto, enquanto o mercado digeria dados econômicos dos EUA. O mesmo movimento deve acontecer nos pregões da próxima semana, à medida que formuladores de política monetária têm reforçado nos últimos dias que são dependentes de dados.

Assim, a semana entre 26 e 30 de agosto trará indicadores de atividades econômicas, inflação e fiscais. Os dados podem direcionar os rumos da política monetária norte-americana.

Vale lembrar que a ata do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto), na última quinta-feira (22), e as falas de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve), confirmaram que o tão esperado corte na taxa de juros dos EUA ocorrerá na próxima reunião.

O cenário nacional também segue essa linha, com os formuladores de política monetária endurecendo o tom sobre as decisões e reforçando a necessidade de indicadores. Contudo, o mercado observa que o discurso do presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, não parece estar em concordância.

Ou seja, a dúvida geral é: a Selic (taxa básica de juros) será mantida em 10,50% ao ano ou passará pelo início do ciclo de alta?

Radar econômico: destaques da agenda entre 26 e 30 de agosto

No Brasil, a agenda se inicia na segunda-feira (26) com o tradicional Boletim Focus, trazendo as projeções e análises sobre a atividade econômica nacional. Mas o mercado deve ser realmente movimentado a partir de terça-feira (27), com a prévia da inflação do mês de agosto, o IPCA-15.

Já na quinta-feira (28) e sexta-feira (30), serão divulgados dados do mercado de trabalho. Além disso, também na sexta-feira, sairão números do setor público divulgados pelo BC. Caso superem as projeções, as perspectivas sobre o aumento da Selic devem ser elevadas.

As incertezas sobre a Selic crescem entre os investidores, à medida que os formuladores de política monetária não alinham o tom.

De um lado, Campos Neto declara que observa uma melhora do cenário externo e a perspectiva de dados de inflação mais baixos para o restante de 2024. Por outro lado, Galípolo, reforçado por outros diretores, sinaliza que há uma desancoragem das expectativas de inflação para 2025 e 2026. Além disso, o diretor também vê uma atividade superior ao estimado.

“Inicialmente, Galípolo adotou um tom mais duro, que foi bem recebido pelo mercado, mas depois suavizou, gerando confusão e críticas. Muitos no mercado acreditam que, para manter a credibilidade, o BC precisaria aumentar a Selic em setembro”, comentou o especialista em mercado de capitais, Christian Iarussi.

No cenário internacional, nos EUA, os destaques também são para dados econômicos, que devem dar indícios da proporção do corte nas taxas de juros.

“O corte de juros em setembro é uma certeza, principalmente após as falas de Jerome Powell de que chegou o momento de ajuste da política monetária. A dúvida, agora, é sobre a magnitude dos cortes”, disse, ao BP Money, Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Entre 26 e 30 de agosto, serão divulgados, nos EUA, dados de confiança do consumidor na terça-feira (27). Em sequência saem os números de Pedidos Iniciais por Seguro-Desemprego (semanal) e o PIB (Produto Interno Bruto) na quinta-feira (29).

Outro dado importante, que será divulgado na mesma data, é o núcleo do PCE. O índice é a medida de inflação preferida pelo Fed, pois dá suporte para decisões de política monetária e exclui variações de preços de alimentos e energia, considerados mais voláteis.

Movimentações sobre política monetária impactam Ibovespa na semana encerrada no domingo (25)

O Ibovespa passou por uma semana bastante positiva, fechando em queda somente na última quinta-feira (22), para a realização de lucros dos investidores. O índice chegou a alcançar recordes históricos, atingindo mais de 137 mil pontos.

O avanço foi reflexo de falas e movimentações referentes à política monetária nos EUA e no Brasil. Na sexta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, finalmente confirmou que haverá um corte nas taxas de juros do país.

A afirmação animou os mercados globais, incluindo o Ibovespa, que sustentou ganho especialmente nos setores de banco e commodities.

As falas de Powell, segundo José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos, firmaram a narrativa de “pouso suave” como a mais provável para o país. Nessa perspectiva, as curvas de juros fecharam nos prazos mais longos.

“O dólar também perdeu força frente às moedas emergentes, sob a expectativa de que os títulos do mercado norte-americano deixem de enxugar a liquidez, e o fluxo beneficie os países EM sob a expectativa de um novo ciclo de cortes de juros, feito de maneira gradual”, disse Alfaix.

Maiores quedas do Ibovespa são reflexo da desvalorização do minério e do dólar

Entre 19 e 23 de agosto, o Ibovespa teve um desempenho muito positivo; contudo, algumas ações no índice sofreram forte desvalorização.

A frequente queda do minério de ferro impacta as ações da Vale (VALE3) e de outras companhias do segmento. A Vale sofreu com o fraco crescimento econômico da China e a ausência de sinais de recuperação no setor imobiliário do país. A afirmativa é de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais.

Na mesma linha negativa, o recuo do dólar afetou papéis de empresas exportadoras de carne, como a JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3).

Evolução do IBOV durante a semana

  • Segunda-feira (19): +1,36%
  • Terça-feira (20): +0,23%
  • Quarta-feira (21): +0,28%
  • Quinta-feira (22): -0,95%
  • Sexta-feira (23): +0,32%
  • Semana: +1,24%