O setor produtivo brasileiro está exaurido, a carga tributária sufoca a capacidade de crescimento da economia, e o cenário atual mostra que a ação do Banco Central é injustificada e pode acarretar em graves consequências para o país.
Essas foram algumas das críticas feitas pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, à decisão tomada na noite desta quarta-feira (18) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Os membros do Copom elevaram a taxa básica de juros em 0,25%. Com isso, a Selic chegou a 15% ao ano, o maior patamar desde 2006, quando era de 15,25%.
Esta foi a sétima alta seguida da taxa Selic realizada pelo Banco Central. Com o aumento, o Brasil passou a ocupar o segundo lugar no ranking global de juros reais (quando é descontada a inflação).
A elevação da Selic em 0,25% levou a taxa de juros anualizada do Brasil a ser de 9,53%, só ficando atrás do que é verificado na Turquia (14,44%).
Presidente da CNI destaca contrassenso
Para Ricardo Alban, presidente da CNI, a promoção de mais um aumento na Selic é “injustificada” e vai agravar as condições de competitividade do setor produtivo,
“Não lidávamos com um patamar tão alto desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos, que já lidam com um cenário conturbado e possibilidade de aumento de juros e custo de captação de crédito”, disse.
“É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?”, questionou Alban.
Em sua crítica, o presidente da CNI também lembra que o cenário da economia compromete a capacidade de o Brasil aproveitar oportunidades abertas a partir da reconfiguração geopolítica em curso.
Alban, em comunicado divulgado na noite desta quarta, insistiu na necessidade da promoção de um pacto nacional para que o país possa avançar com medidas estruturantes. “O setor produtivo já exauriu sua resiliência”, disse.
Decisão contrapõe momento econômico
De acordo com Ricardo Alban, a nova alta da Selic é incondizente com o cenário atual e prospectivo, pois a economia já manifesta os efeitos da política monetária constritiva, como a desaceleração da inflação.
“Sem o início da redução da Selic, seguiremos penalizando a economia e os brasileiros. O cenário torna o investimento produtivo muito difícil no Brasil, com consequências graves para a economia”, reitera o presidente da entidade.
Analistas da CNI afirmam que ao menos cinco motivos justificariam a interrupção do ciclo de alta da taxa Selic pelo Banco Central: taxa de juros real crescente; crédito caro; economia em desaceleração; menor impulso fiscal; e sinais positivos da inflação.
“Do lado das empresas, os juros mais altos inviabilizam diversos projetos de investimento, essenciais para ampliar e modernizar a estrutura produtiva do país, e também aumentam o custo do capital de giro, essencial para o cotidiano das empresas”, avalia Alban.
Já do lado dos consumidores, explica o presidente da CNI, os juros mais altos limitam a compra de diversos bens, sobretudo os de maior valor, que dependem mais de financiamento.