O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse, nesta quinta-feira (18), que não aceitará prorrogar seu mandato em 2024, ano de término do mesmo. Campus Neto diz que, mesmo se for apontado para a recondução pelo próximo presidente da República, não mudará sua decisão.
O presidente do BC explicou que foi contra a regra de autonomia do Banco Central que prevê mandatos fixos de 4 anos ao presidente e aos diretores do banco com recondução, em uma evento do BTG Pactual. “Outros países passam por isso e eu não gosto, não acho que seja bom”, afirma Campos Neto.
Núcleos de inflação em níveis altos
O presidente diz que a inflação brasileira está bastante pressionada e afirma que a autoridade monetária está vigilante. “Os preços administrados caem com medidas do governo, mas temos que ver no prazo mais longo. Os núcleos de inflação estão em níveis muito altos, por isso estamos atentos”, alega.
O Banco Central reconhece que há dificuldade para se calcular a inércia inflacionária para os próximos anos, enquanto o mercado eleva as projeções de inflação para 2023. “Medidas do governo geram inércia menor, mas precisamos qualificar inflação de médio prazo. Temos olhado com cuidado porque as estimativas mais longas estão descolando das projeções do BC”, acrescenta Campos Neto.
Além disso, o presidente do BC afirma que quase todos os países têm projeções de inflação acima das metas, tanto em 2022 como em 2023. “Isso mostra o quanto o cenário atual é desafiador”, porém ele alega que o BC atua primeiro e de maneira mais forte.
Revisão das projeções do PIB
O Banco Central provavelmente irá rever a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano no próximo Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em setmebro, segundo Campos Neto, para cima.
“Há o efeito das medidas do governo, mas também existem outros fatores. A indústria está um pouco parada, embora os serviços tenham retomado mais fortemente. Além disso, o mercado de trabalho tem surpreendido positivamente, com boas notícias”, afirma o presidente.
“Mas há uma mudança de empregos com salários mais altos por salários mais baixos”, acrescenta. Além disso, ele afirma que o real tem sido a “melhor moeda do mundo”, com desempenho melhor que outras, com exceção do rublo, que apresenta grande volatilidade.
“Temos visto um grande fluxo de entrada no Brasil e entendemos que isso deve se intensificar para projetos mais longos. Nunca vi o Banco Central receber ligações de empresas que querem vir para o Brasil e isso tem acontecido recentemente. Quando vou a fóruns internacionais escuto mais elogios que nos fóruns nacionais. Parte das críticas são injustas. Acho que temos feito um trabalho diferenciado”, afirma Campos Neto.