SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A alta na taxa básica de juros deve provocar uma desaceleração no ritmo de concessão de crédito pelos grandes bancos, e um impacto negativo na inadimplência. A projeção é de Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco.
Para ele, o ano de 2022 “inspira muito cuidado”, em um ambiente de maior incerteza política e juros mais altos.
“Quando olho para 2022, é um cenário em que a gente verá uma piora na inadimplência, é esperado que seja assim [devido aos juros mais altos], e estamos preparados para isso do ponto de vista do provisionamento no balanço”, afirmou o executivo, durante teleconferência nesta quinta-feira (4) para comentar os resultados do terceiro trimestre.
No período, o Itaú lucrou R$ 6,8 bilhões, uma alta de 34% na comparação anual.
Maluhy leva em consideração o atual cenário de aperto financeiro. As projeções dos analistas de mercado apontam para uma Selic, a taxa básica de juros, cada vez mais alta nos próximos meses para que o BC (Banco Central) possa trazer a inflação de volta para a meta.
O resultado da instituição já está alinhado com essa tendência. As despesas de provisão para créditos de liquidação duvidosa atingiram R$ 5,26 bilhões em setembro, uma queda de 12,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, mas um aumento de 14,3% ante junho de 2021.
Teve contribuição importante para o resultado do último trimestre do banco a evolução de 13,6% da carteira de crédito, que chegou a R$ 962,3 bilhões. O presidente do banco espera, contudo, por alguma acomodação.
“Para o ano que vem, a expectativa é de uma carteira [de crédito] que cresça menos. Não é um cenário macro que inspira muito vontade de continuar crescendo, pelo menos no ritmo que a gente vem observando”, afirmou Maluhy Filho. Ele prevê também um aumento no custo do crédito.
Na semana passada, o presidente do Santander Brasil, Sergio Rial, havia passado uma visão parecida do banco a respeito das perspectivas para 2022. “[O crescimento da carteira de crédito às pessoas físicas] deve voltar para níveis de maior normalidade, que têm sido de um dígito alto, entre 9% e 12%”, afirmou Rial.
Apesar da previsão de aumento para a inadimplência, o presidente do Itaú afirmou que não espera que os níveis retomarão àqueles observados durante a pandemia. No primeiro trimestre de 2020, a inadimplência de 90 dias no banco alcançou 3,1%. Em setembro de 2021, a taxa de atrasos foi de 2,6%.
Na avaliação de Maluhy Filho, no ambiente de menor crescimento, com inflação e juros altos nos próximos meses, os clientes de varejo tendem a ser os mais afetados, em comparação às grandes empresas de atacado que contam com o canal adicional de financiamento via mercado de capitais.
De toda forma, o executivo reconheceu que o cenário de menor previsibilidade deve trazer impacto negativo também para as operações no mercado de capitais.
Segundo Maluhy Filho, negócios no segmento de renda variável na área de banco de investimento, como as aberturas de capital (IPO na sigla em inglês) de empresas na Bolsa não devem seguir a mesma toada que chegou a ser observada durante parte deste ano. “O resultado de investment banking será menor em 2022 do que em 2021”, afirmou o executivo.