
O IPCA-15 de fevereiro, conhecido como ‘prévia de inflação, registrou uma alta de 1,23%, abaixo das projeções do mercado e também das estimativas internas de analistas. Ainda assim, de acordo com especialistas ouvidos pelo BP Money, o cenário ainda sugere um quadro mais desafiador para a inflação no Brasil.
A surpresa foi gerada principalmente pelos itens mais voláteis, enquanto os custos de serviços subjacentes, como aluguel e condomínio, seguem em alta e preocupam especialistas.
Em relação ao mês anterior, o índice de inflação acelerou, como esperado, com a devolução da deflação gerada pela redução de tarifas de energia elétrica em janeiro e o aumento dos preços dos combustíveis. Esses fatores contribuíram para a alta geral do IPCA-15.
No entanto, o desvio para baixo ocorreu em alguns itens específicos, como cinemas, educação e passagens aéreas, que apresentaram quedas. Já os serviços subjacentes, incluindo aluguel e condomínio, mostraram aumento significativo e geraram preocupações com a inflação.
Inflação: ausência de más notícias já é um bom caminho, avaliam
Para os especialistas, a situação continua desafiadora. De acordo com a análise de Macro Research, da Kínitro Capital, a aceleração do IPCA-15 foi provocada em grande parte pela alta da energia elétrica (+16,33%), que compensou a deflação registrada no mês anterior.
Em termos de alimentos, a desaceleração foi notada, mas o impacto da alimentação no domicílio ainda foi significativo.
Maykon Douglas destaca que “a ausência de novas más notícias é uma boa notícia”, embora o cenário para a inflação corrente ainda permaneça difícil.
Além disso, a análise da Research também aponta que a pressão sobre os serviços subjacentes permanece, refletindo a persistente alta de itens como aluguel e condomínio, o que coloca em alerta o Banco Central. A projeção do IPCA para fevereiro foi revista de 1,45% para 1,31%, mas os especialistas ainda indicam uma inflação bem acima do teto da meta para 2025.
O economista Leonardo Costa, do ASA, compartilha uma visão semelhante, apontando que a surpresa foi a deflação em alguns itens voláteis, como passagens aéreas e educação, mas o avanço nos serviços, especialmente com o aumento de aluguel e serviços veiculares, ainda coloca o IPCA em um patamar elevado.
Costa acredita que o IPCA de fevereiro pode ser revisado para baixo, mas não há mudanças significativas nas expectativas de médio e longo prazo.
“O núcleo de serviços ainda indica resistência, com inflação elevada em aluguel e alimentação fora do domicílio”, afirmou Costa.
A análise de Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, reforça o impacto das medidas anunciadas pelo governo, como o saque do FGTS e outras ações populares, que geraram preocupações fiscais e reflexos no mercado.
A reação negativa da bolsa, o aumento no DI futuro e a alta do dólar são vistos como um reflexo da tensão fiscal.
Com a inflação ainda pressionada, o cenário para a política monetária continua desafiador, e especialistas acreditam que o Banco Central terá que adotar novas medidas de aperto monetário para controlar os preços.