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Prévia da inflação traz alívio, mas não afasta pressão inflacionária

A alta nos preços de itens essenciais, como alimentos e combustíveis, segue sendo um dos principais motores da inflação

Prévia da inflação traz alívio, mas não afasta pressão inflacionária

A IPCA-15, conhecido como prévia da inflação, divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (27) mostrou um alívio no ritmo de alta, mas a pressão sobre o custo de vida ainda persiste.

Em março de 2025, o índice registrou uma variação de 0,64%, bem abaixo da taxa de 1,23% observada em fevereiro. No entanto, o acumulado de 12 meses atingiu 5,26%, mantendo a inflação acima da meta estipulada pelo Banco Central, o que pode implicar em ações mais rigorosas da autoridade monetária.

Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, comentou sobre a desaceleração observada no mês, mas destacou que a situação ainda exige cautela.

Para ele, “essa desaceleração do IPCA-15 pode proporcionar um alívio temporário para o consumidor, especialmente diante das recentes pressões inflacionárias em itens essenciais como alimentos e combustíveis”, mas ressaltou que a inflação permanece acima da meta, o que deve levar o Copom (Comitê de Política Monetária) a manter a taxa Selic elevada, possivelmente atingindo 15% ao ano.

Impacto do aumento dos alimentos e combustíveis

A alta nos preços de itens essenciais, como alimentos e combustíveis, segue sendo um dos principais motores da inflação.

De acordo com o relatório do IBGE, os preços de alimentação e bebidas subiram 1,09% em março, com destaque para o aumento do ovo de galinha (19,44%), tomate (12,57%), café moído (8,53%) e frutas (1,96%).

Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, sublinhou que esses aumentos impactam diretamente o orçamento das famílias, fazendo com que o consumidor precise priorizar o básico, afetando, assim, o comércio e os serviços.

“Com esses aumentos, sobra menos dinheiro para outros gastos, o que acaba afetando o comércio e os serviços, já que o consumidor precisa priorizar o básico”, afirmou.

Além disso, o aumento no custo de vida também tem reflexos no consumo. Volnei Eyng, CEO da Multiplike, comentou que, embora a desaceleração tenha sido observada em março, a inflação continua pressionando.

“Os preços continuam subindo em todos os setores, com destaque para alimentos e transportes”, afirmou.

O especialista ainda apontou que, mesmo com a desaceleração do índice, o Brasil ainda está muito distante da meta de inflação, com um acumulado de 1,99% no ano e 5,26% em 12 meses.

Pressão sobre o Copom e juros elevados

O cenário de inflação persistente coloca o BC (Banco Central) em uma posição difícil, com a necessidade de manter os juros altos para tentar conter a pressão sobre os preços.

“Essa política encarece o crédito e freia a economia, afetando diretamente setores como varejo, construção civil e indústria, que podem enfrentar ainda mais dificuldades para receber aportes, fazer investimentos e contratar novos colaboradores”, disse Theo Braga, CEO da SME The New Economy.

José Alfaix, economista da Rio Bravo, também reforçou que a inflação continua bastante resistente no setor de serviços.

“A despeito dos sinais de moderação mostrados pelos dados mais recentes, o rendimento médio real das famílias teve crescimento bastante elevado em 2024, e a desaceleração do ritmo deve demorar para se materializar em menor nível de consumo”, afirmou Alfaix.

Para profissional, mesmo que a inflação desacelere em algumas áreas, o consumo ainda será alimentado por programas de crédito e o aumento do rendimento real.

Cenário de investimentos e a perspectiva de crescimento

Em relação aos investimentos, o cenário permanece desafiador. Segundo João Kepler, CEO da Equity Group, a combinação de juros elevados e um cenário de inflação persistente torna o ambiente de investimentos no Brasil cada vez mais complexo.

“O custo elevado do crédito desestimula empresas a financiarem expansão, inovação e contratações, o que pode comprometer o crescimento econômico no médio prazo. Setores intensivos em capital, como infraestrutura, indústria e tecnologia, tendem a ser os mais afetados”, disse Kepler.

O executivo ainda ressaltou que as empresas podem buscar alternativas, como emissão de debêntures ou parcerias estratégicas, para viabilizar investimentos.

André Matos, CEO da MA7 Negócios, apontou que, caso a desaceleração da inflação não se consolide nos próximos meses, o Banco Central provavelmente manterá a postura cautelosa, o que pode afetar o ritmo da atividade econômica.

“Isso pode impactar negativamente o ritmo da atividade econômica, tornando o crédito mais caro para empresas e consumidores”, disse Matos.