Jogo de xadrez

Prisão de Bolsonaro pode travar negociações com Trump sobre tarifaço?

Prisão de Bolsonaro causa reação nos EUA e complica esforços de Lula para reverter tarifaço de Trump sobre exportações brasileiras.

Foto: Reprodução
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A prisão de Bolsonaro ocorre em um momento crítico para a diplomacia entre Brasil e Estados Unidos. A medida, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, pode travar as tentativas do governo Lula de reverter o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump.

Nos últimos dias, o governo brasileiro tentava estreitar relações com Washington. Trump chegou a dizer que Lula poderia telefonar “quando quisesse”. Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu com o secretário Marco Rubio, sinalizando uma possível reaproximação.

Logo após a decisão, os Estados Unidos reagiram com firmeza. O Escritório para o Hemisfério Ocidental condenou a prisão domiciliar e defendeu o direito de Bolsonaro se manifestar. Apesar disso, o governo brasileiro evitou qualquer comentário público. A estratégia segue focada em evitar ruídos e manter o diálogo aberto com Washington.

Ainda assim, a situação provocou alerta entre empresários e autoridades do setor comercial. José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), avaliou que a prisão pode congelar avanços:

“Pode impactar a perspectiva de aumento da lista de isenções, colocando em suspenso esse aumento. Aparentemente, havia um movimento de reaproximação, com a fala de Trump que aceitaria atender o presidente Lula. Amenizou o ambiente. No curtíssimo prazo, nada deve acontecer.”

Para ele, o momento exige prudência:
“É o momento de ficar quieto e aguardar um pouco para ver o que vai acontecer. Trump toma decisões por impulso. Foi assim com a taxação de 10% e também com as de 50%.”

Fim da trégua?

Até a semana passada, o Planalto via sinais positivos. A pausa em decisões do STF permitiu a abertura de diálogo com autoridades americanas. No entanto, com a nova ordem de prisão, a tensão aumentou. Eduardo Bolsonaro voltou a pedir sanções internacionais contra Alexandre de Moraes, o que agravou o cenário.

Segundo Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, o impacto pode ultrapassar o campo político:
“Se não cessar as negociações temporariamente, pode piorar o diálogo entre Brasil e Estados Unidos.”

Ele destacou o viés político da medida tarifária de Trump:

“A prisão do Bolsonaro com certeza pode acender ainda mais esse cunho político ou talvez soar como uma retaliação do próprio Moraes sobre as sanções impostas.”

Prisão de Bolsonaro divide especialistas sobre impacto no tarifaço

Hussein Kalout, da Universidade de Harvard, minimizou o efeito sobre o comércio:

“Os Estados Unidos vão olhar para aquilo que interessa a eles em matéria comercial. Bolsonaro nada mais é que um instrumento político pontual.”

Jana Nelson, ex-subsecretária do Pentágono, reforçou esse ponto:

“Na perspectiva de Trump, tudo se mantém igual. Ele já achava que o Bolsonaro é vítima de um processo de politização do Judiciário.”

Prisão de Bolsonaro coincide com início do tarifaço

O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros entra em vigor nesta quarta-feira (6). No entanto, os EUA divulgaram uma lista de exceções com quase 700 itens. Essas exceções representam 42% das exportações do Brasil para o mercado americano, segundo a Amcham.

Mesmo diante da crise, o governo Lula tenta preservar os canais abertos e ampliar a lista de isenções. Porém, a turbulência política pode comprometer os próximos passos.