RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) O valor da produção agrícola brasileira voltou a bater recorde em 2020, embalado por uma combinação de fatores que vai desde preços elevados e demanda aquecida por commodities no mercado externo até condições climáticas positivas.
O cenário é retratado pela pesquisa PAM (Produção Agrícola Municipal) 2020, divulgada nesta quarta-feira (22) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No ano passado, o primeiro sob influência da pandemia de coronavírus, o valor da produção agrícola nacional chegou a R$ 470,5 bilhões, um avanço de 30,4% frente a 2019. É o recorde em termos nominais (sem levar em conta a inflação) da série histórica do IBGE. O levantamento reúne dados a partir de 1974.
O resultado de 2020 consolida um período de sucessivas elevações no valor da produção. De 2011 até o ano passado, o indicador caiu apenas em 2017, segundo o IBGE.
O instituto ressalta que, em meio às restrições provocadas pela Covid-19, houve uma corrida internacional por estoques de alimentos. Com isso, commodities agrícolas como soja e milho se valorizaram no mercado externo. O dólar mais alto frente ao real acabou jogando a favor dos preços para os produtores. Assim, o valor da produção subiu.
O efeito colateral foi o avanço nos valores dos alimentos para os consumidores brasileiros. A alta verificada nas gôndolas dos supermercados ainda impacta a inflação no país.
Conforme o IBGE, o clima favorável na maior parte das regiões brasileiras também ajudou a agricultura em 2020. O valor da produção só não foi maior, diz o instituto, porque houve uma estiagem severa no início do ano passado no Rio Grande do Sul.
“Em 2020, o setor agrícola conseguiu ter um desempenho positivo, ao contrário de outros setores afetados pela pandemia. As condições climáticas e os preços favoreceram”, analisa Winicius de Lima Wagner, supervisor da pesquisa do IBGE.
O instituto destaca ainda outros dois recordes da série histórica alcançados em 2020: a área plantada totalizou 83,4 milhões de hectares, 2,7% superior à de 2019, e a produção de grãos (cereais, leguminosas e oleaginosas) alcançou 255,4 milhões de toneladas, 5% a mais do que no ano anterior.
“A gente também tem de considerar que, com os resultados das safras anteriores, o produtor ficou capitalizado para investir”, diz Wagner.
A soja permaneceu como a principal cultura brasileira. Em 2020, o valor de produção subiu 35%, para R$ 169,1 bilhões. O item respondeu por 35,9% do total gerado pelo setor agrícola no país.
“A soja saiu da terceira posição no ranking de maior valor da produção agrícola nacional, na primeira metade da década de 1990, para tornar-se a principal commodity”, ressalta a pesquisa do IBGE.
O milho ocupou o segundo lugar no ranking de valor em 2020. A cultura somou R$ 73,9 bilhões, alta de 55,4% ante 2019.
Conforme o IBGE, foi a primeira vez desde 2008 que o valor da produção do milho superou o da cana-de-açúcar (R$ 60,8 bilhões), que caiu para a terceira posição da lista.
“Os avanços tecnológicos observados no desenvolvimento de insumos e técnicas de produção impulsionaram a produtividade das lavouras de milho no país, que mais do que triplicaram em 30 anos”, frisa o instituto.
Mato Grosso, destaque na produção de soja, milho e algodão, segue na primeira posição do ranking de valor de produção entre as unidades da federação. Em 2020, o estado do Centro-Oeste registrou a marca de R$ 79,2 bilhões, o equivalente a 16,8% do total do país.
São Paulo, destaque na cana-de-açúcar, aparece na segunda posição, com valor de R$ 68 bilhões. A marca corresponde a 14,5% do total brasileiro.
O Paraná (12,7%), maior produtor nacional de trigo e o segundo de soja e milho, ocupou o terceiro lugar em valor de produção, à frente de Minas Gerais (10,1), destaque no cultivo de café.
O Rio Grande do Sul, que teve a produtividade de parte das culturas de verão afetada pela seca no início de 2020, caiu para a quinta posição no ranking. A participação gaúcha foi de 8,1%.
Conforme o IBGE, os 50 municípios com os maiores valores de produção agrícola concentram 22,7% (ou R$ 106,9 bilhões) do total nacional. Dessas 50 cidades, 20 ficam no Mato Grosso.
Sorriso (MT) manteve a liderança entre os municípios com maior valor de produção: R$ 5,3 bilhões (1,1% do país). A soja é o principal item local.
Em seguida, aparece São Desidério (BA), com R$ 4,6 bilhões. A soja também é a principal cultura no município baiano.
O terceiro lugar é ocupado por Sapezal (MT), com R$ 4,3 bilhões. O principal produto é o algodão.
A PAM 2020 reúne dados de 64 culturas com lavouras temporárias e permanentes. A pesquisa é anual, com abrangência nacional, e traz recortes que incluem estados e municípios.
Ao longo de 2021, lavouras diversas foram prejudicadas pela seca prolongada e pelo registro de geadas no país. Ou seja, o clima, que jogou a favor em 2020, trouxe dificuldades neste ano.