Donald Trump foi empossado como presidente na última segunda-feira (20). Em seu primeiro dia como mandatário, já assinou dezenas de medidas que revogam políticas do governo anterior. O discurso de uma ‘era dourada’ é visto por seus apoiadores como sinônimo de crescimento econômico e melhora da inflação que vem afetando os EUA desde 2022, quando atingiu seu ápice de 9,1% em junho.
Entre os argumentos da piora econômica estão o desemprego e o comercio externo que os Estados Unidos possuem com economias majoritariamente exportadoras como China e Brasil. Trump decidiu comprar a briga da diplomacia e promete taxar a maioria dos produtos importados, uma tentativa de aquecer a economia interna. O republicano também decidiu emitir decretos que prometem uma deportação em massa de imigrantes ilegais, fortalecimento das fronteiras, principalmente como o México, além de uma regulamentação rígida para aqueles que vivem no país legalmente.
Segundo resultado do livro Bege do FED (Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, da sigla em inglês) o cenário é otimista, mas há preocupações com as consequências de longo prazo dos decretos presidenciais e a resposta da comunidade internacional.
Motor principal
A resposta unanime da economia a uma taxação de produtos é o aumento da inflação. Esse aumento vai ser percebido majoritariamente no consumidor que verá a mudança nos bens de consumo. Para Leandro Sobrinho, co-fundador da Davila Finance, apesar da narrativa de proteger a economia americana, muito não se efetivará, pois afeta a capacidade de produção interna do país. A demanda é muito alta e mesmo a maior economia do mundo não conseguirá se autossustentar no curto e médio prazo.
Na visão de Daniel Toledo, especialista em Direito e Negócios Internacionais, “a economia americana sobrevive aos altos e baixos há décadas em razão de seu motor PRINCPAL que é o consumo (muitas vezes até exagerado)”. Há ainda o risco de uma lentidão no crescimento econômico causado por essas mesmas decisões: “Os EUA são autossuficientes em muitas áreas, mas não no todo. Aumento de tarifas em produtos essenciais como chips, manufaturados e até alguns alimentos vão elevar significativamente o custo de produtos internos e recairão novamente sobre os bolsos do consumidor final. Isso pode impactar negativamente as exportações americanas, prejudicando setores que dependem de mercados internacionais”, explica.
Também é possível a diminuição das taxas ou até a extinção da medida em breve, devido as respostas do mercado. A figura de Trump é conhecida por sua verborragia e nesse contexto, a reação negativa do mercado é esperada. André Franco, CEO da Boost Research, relembra que a proposta tende a ser menos agressiva com a implantação. Para ele “O governo de Trump provavelmente terá que moderar a taxação para evitar efeitos econômicos mais severos.”
Quem lucra?
A alta dos juros para controle da inflação tende a aumentar os lucros para aqueles que oferecem crédito: bancos e seguradoras. O aumento das margens e títulos de renda fixa se tornam especialmente atraentes para esses setores.
Eduardo Klautau, sócio da Aware Investments, destaca os malefícios desse cenário dentro dos segmentos empregatícios norte-americanos: “setores como consumo discricionário e construção civil, que dependem mais de financiamentos, podem enfrentar dificuldades com a redução da demanda. Empresas que possuem maior alavancagem financeira podem ser penalizadas, enquanto ativos mais resilientes, como utilities e empresas de consumo básico, tendem a atrair maior interesse devido à sua estabilidade em cenários de alta nos juros”, salientou o analista sênior.
Para Sobrinho, o revés dos juros altos também afeta o financiamento habitacional que é majoritário nos EUA, nos últimos anos tendo uma média de US$1,8 trilhão. “Desde o pós pandemia, os valore dos imóveis subiram mais do que os salários atrelados as já altas taxas de juros para os padrões americanos, vem dificultando o acesso, principalmente da classe média e baixa a compra do imóvel, com isso a pressão do mercado imobiliário é grande para o controle da inflação que gere a redução de juros.”