Avaliam especialistas

Protecionismo de Trump pode impactar comércio entre Brasil e EUA

Marcello Carvalho observa que nem todos os setores estarão em uma posição favorável

Foto: Reprodução
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A reeleição de Donald Trump para a presidência dos EUA traz de volta um cenário de políticas econômicas voltadas para o protecionismo e a busca pela autossuficiência. 

A expectativa é que, após o retorno à Casa Branca, o Brasil enfrente tanto desafios quanto oportunidades no que diz respeito às suas relações comerciais com os EUA. Especialistas ouvidos pelo BP Money apontam para um cenário de tarifas mais altas, reconfiguração do mercado de commodities e um possível fortalecimento de setores chave da economia brasileira.

Para Eduardo Garay, CEO da TechFX, o foco do republicano em políticas protecionistas pode ter efeitos negativos para o Brasil, especialmente no que diz respeito a produtos como o aço semiacabado e o café, que são parte das principais exportações brasileiras para os EUA. 

Segundo Garay, “a proposta de Trump de uma tarifa global de 10% sobre produtos estrangeiros pode elevar significativamente os preços das importações, tornando os produtos americanos mais competitivos.” 

O aumento de tarifas não é apenas um desafio para o Brasil, mas também para outros países, como a China, que enfrenta tarifas de até 60% sobre seus produtos.

No entanto, Garay acredita que o Brasil pode se beneficiar de um efeito colateral da guerra comercial entre os EUA e a China. 

“A China, pressionada pelas tarifas americanas, pode buscar fornecedores alternativos, e o Brasil tem grande potencial para atender a essa demanda, especialmente no setor de alimentos e commodities, como carne bovina e café”, afirma o executivo. 

De fato, em 2018, as exportações brasileiras de soja para a China cresceram 34,6%, em um cenário de disputa tarifária entre os dois gigantes econômicos.

O Impacto do protecionismo de Trump nas relações financeiras

O especialista em investimentos Gustavo Ferraz, da WIT Invest, observa que a vitória de Trump também foi antecipada pelos mercados financeiros, que já haviam se posicionado para aproveitar as medidas de desregulamentação e corte de impostos esperadas. 

“O que vimos com a eleição de Trump foi o reflexo do ‘Trump Trade’, ou seja, o mercado se posicionando para beneficiar ativos que se beneficiariam de uma continuidade das políticas do primeiro mandato”, explica Ferraz. 

Exemplos claros disso foram os setores de bancos e petróleo, que tiveram um desempenho positivo logo após a eleição. O ETF KRE, que é focado no setor bancário, subiu 10% no dia da vitória do republicano, enquanto o ETF de Small Caps teve uma alta de 4,3%.

Ferraz vê uma oportunidade para o Brasil, principalmente no setor de commodities. “Com o fortalecimento da economia norte-americana, o Brasil tem chances de aumentar suas exportações para os EUA, especialmente nas áreas de matérias-primas, como minérios e celulose”, afirma o especialista. 

No entanto, ele destaca que a competição será acirrada, pois os EUA estão cada vez mais focados na produção interna, o que pode afetar a competitividade de alguns produtos brasileiros.

Petrobras deve enfrentar desafios no mercado de energia

Por outro lado, o Brasil pode enfrentar desafios significativos no setor de energia, particularmente no que diz respeito à Petrobras. Trump tem sido claro em seu objetivo de aumentar a produção de petróleo nos EUA e reduzir a dependência do Oriente Médio. 

“A política de Trump de incentivar a produção de petróleo e gás nos EUA pode criar uma concorrência direta com os fornecedores estrangeiros, como o Brasil, o que dificultará as exportações de petróleo bruto”, afirma Marcello Carvalho, economista da WIT Invest.

Com a produção de petróleo nos EUA atingindo níveis recordes no primeiro mandato de Trump, o Brasil pode ver uma redução na demanda por seu petróleo, especialmente se o mercado global for pressionado pela oferta americana. 

Carvalho também alerta que a desregulamentação promovida por Trump, que tende a beneficiar a produção interna de energia, pode tornar as empresas brasileiras menos competitivas, principalmente no contexto do mercado de óleo e gás.