Na coluna de ontem tentei explicar como o crescimento econômico pode gerar inflação, no curto prazo, e como esse processo está ligado ao quanto da capacidade produtiva da economia está sendo utilizada (ler aqui). Os conceitos de hiato do produto e excesso de demanda agregada são essenciais para entender até onde um país consegue se utilizar das suas capacidades instaladas e da sua força de trabalho. Mas como expandir o PIB potencial? Como crescer a longo prazo?
Para introduzir novos conceitos, o mais adequado é compreender a ideia em torno de produtividade. Ser produtivo, em termos gerais, é produzir mais com a mesma quantidade de recursos. Se, hipoteticamente, João tem quatro horas de trabalho e confecciona 20 chaveiros de bola de futebol diríamos que seu produto por hora é de cinco chaveiros, correto?
Agora, para melhorar sua eficiência, o rapaz descobre uma nova técnica que acelera o processo, passando a produzir 40 chaveiros em seu horário de trabalho, dizemos que João tem um produto por hora de 10 chaveiros. Por fim, houve um incremento substancial na produção sem que o rapaz tivesse que contratar mais força de trabalho ou instalar mais equipamentos em seu local de trabalho, logo, esse crescimento veio da produtividade.
Após o exemplo prático, pense na ideia de uma economia nacional com suas instalações de fábricas e força de trabalho. Na contabilidade nacional, um país pode crescer pelo que chamamos de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), nela está incluída a contabilização do crescimento bruto de instalações fabris, aquisição de máquinas para indústria, etc.
Foi assim que o país cresceu no milagre econômico dos anos 70, onde houve uma mudança estrutural produtiva, com o deslocamento da população da área civil e o investimento pesado no crescimento de estoque de capital fixo. Crescemos, como alguns economistas dizem, na base da força bruta.
Foto: FGV
Seria incrível se pudéssemos crescer pelo simples fato de expandir nossa capacidade instalada, mas não é bem assim. Todo capital fixo tem uma “data de validade”, medimos isso pelo que chamamos de taxa de depreciação, onde medimos o quanto das nossas instalações depreciam e perdem uso e/ou capacidade produtiva no período de um ano. Quanto mais capital fixo, maior vai ser a taxa de depreciação.
Agora, voltamos ao conceito do início do texto e suas implicações sobre o crescimento. Se a variação do PIB tem um limite que não afete os núcleos de inflação e a própria capacidade instalada não pode perder eficiência com o excesso de depreciação, qual a opção para o crescimento de longo prazo nos países desenvolvidos? Produtividade!
Para atingir um grau de crescimento sustentado a longo prazo, uma boa parte dos países desenvolvidos investiram numa “receita de bolo” que tem funcionado muito bem. O investimento na área educacional, de pesquisa e de qualificação de mão de obra tem sido regra para a estabilidade de bons indicadores de PIB e produtividade agregada.
Coreia do Sul, Taiwan, Alemanha e, mais recentemente, China voltaram seus olhos para o que chamamos de “agenda de produtividade” que, no longo prazo, gera variações positivas na renda nacional que se sustentam pelo próprio fundamento do conceito: fazer mais com o mesmo!
Para finalizar e jogar um pouco de luz sobre o velho debate da industrialização, trouxe alguns números de produtividade setorial no Brasil. Será que é necessário o fomento direto para o crescimento da indústria? Seria só o investimento em infraestrutura suficiente (muito pouco discutido nos dias de hoje)? Colocar gente pra trabalhar na indústria resolve nossos problemas? A indústria realmente é mais produtiva que os outros setores? Nossa produtividade cresce muito pouco a quase 20 anos e já está na hora de mudar deixar os velhos dogmas e entender um novo projeto de país.
Foto: FGV