Dois trimestres seguidos de estagnação do PIB (Produto Interno Bruto) em 2021, a perspectiva de um Natal magro, mais estagnação no ano que vem e o aumento das incertezas no cenário externo, com uma nova onda da pandemia –o cenário econômico desafiador já reverte as expectativas de consumidores e empresas.
“A gente espera mais do mesmo em 2022, com números de previsão pra o PIB do ano que vem perto de zero. Será mais um ano de estagnação, com todas as incertezas que as eleições trazem, e de muita incerteza no exterior”, avalia o economista Paulo Picchetti, da FGV (Fundação Getulio Vargas).
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou na quinta-feira (2) que o PIB caiu 0,1% no terceiro trimestre. Mesmo ao se olhar para o retrovisor, os números confirmam, segundo Picchetti, uma impressão de que a economia anda de lado após um breve período de recuperação.
“Os vários resultados detalhados do PIB mostram que nenhuma força é capaz de fazer com que o crescimento acelere. Se a vacinação permite a recuperação dos serviços, há uma força negativa vindo de mais incerteza, com a nova variante, e de uma política econômica de elevação dos juros para combater a inflação.”
Olhando para o futuro, as sondagens apontam de perda de confiança de indústria, consumidor, construção civil e comércio.
A confiança empresarial caiu 3,3 pontos em novembro, seguindo uma tendência de queda esboçada em setembro, segundo os indicadores de confiança e incerteza do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), também da FGV.
Já a confiança do consumidor caiu 1,4 ponto no mês, para 74,9 pontos, o menor nível desde abril de 2021.
No caso do consumidor, o período captado pelo levantamento é para os próximos seis meses. Para as empresas, os índices de confiança consideram horizontes de três e seis meses.
Quase todos os índices de confiança estão abaixo dos cem pontos e em tendência de queda desde setembro. Eles estavam crescendo depois da segunda onda, vinham numa recuperação.
Em setembro, já tinham dado um sinal de piora e agora confirmaram a tendência, diz Aloisio Campelo Júnior, superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre.
“O cenário é de desaceleração da economia, e as expectativas refletem essa piora. Ao contrário dos primeiros meses do ano, quando a segunda onda da pandemia fazia a economia afundar, agora é a inflação e o aperto monetário que pesam sobre as expectativas.”
Do ponto de vista dos empresários, o cenário fiscal não é favorável e o aumento dos juros afeta a tomada de crédito. No caso do consumidor, a principal influência é da inflação.
A confiança dos consumidores de baixa renda, principais afetados pela alta dos preços ficou próxima da mínima registrada pela pesquisa em 16 anos. Em novembro, o nível médio da confiança de consumidores com renda mais baixa caiu 3,6 pontos, para 64,7.
Enquanto a confiança daqueles com renda mais alta ficou estável, em 83,8 pontos. Com isso, a distância entre as duas faixas extremas de renda é a maior da série histórica iniciada em 2005, em 19,1 pontos.
Empresas e consumidores veem um horizonte de estagnação contratada para 2022, diz Campelo.
“É a continuidade de uma tendência de desaceleração. Se a gente olha o PIB desagregado, o setor de serviços cresceu um pouco e houve uma queda grande da agropecuária, mas é pouco.”
Ao se olhar para o cenário econômico no exterior, Picchetti avalia que a variante ômicron mudou as perspectivas na última semana. O crescimento já vinha desacelerando, as cadeias de distribuição continuavam prejudicadas pela falta de componentes e há uma expectativa de queda dos preços de commodities.
“Agora, temos ainda essa nova onda com a nova variante e alguns países que já estão em lockdown e discutindo novas medidas de restrição. Não é um cenário que permite dizer se vai vir uma ajuda do setor externo para a economia brasileira.”
Picchetti também avalia que, dado o cenário mais complexo para o ano que vem, o ideal seria que o governo trabalhasse na redução das incertezas.
“Infelizmente, a gente vê que as incertezas externas se somam ao quadro fiscal, as manobras feitas para aumentar gastos sem contrapartida de receitas. E o preço disso já estava aparecendo em termos de moeda desvalorizada, aumento da perspectiva de juros futuros.”