A utilização do Pix registrou uma queda de 15,3% em janeiro de 2025 em comparação a dezembro do ano anterior, o que marca a maior redução desde o lançamento do sistema em 2020.
De acordo com dados do SPI (Sistema de Pagamentos Instantâneos) do Banco Central, entre os dias 1º e 14 de janeiro, foram realizadas 2,286 bilhões de transações via Pix, contra 2,699 bilhões no mesmo período de dezembro de 2024.
A queda é notável quando comparada com o mesmo mês dos anos anteriores: janeiro de 2024 teve uma redução de 11,02%, e janeiro de 2022, uma diminuição de 12,91%.
A exceção foi em 2021, quando as transações no início de janeiro cresceram 51,29%, em comparação com o mesmo período de 2020. O Banco Central, por sua vez, afirmou que o movimento está dentro da variação sazonal observada no início de cada ano.
Denis Deli, VP de Marketing e Vendas da AQPAgo, soluções de meios de pagamento, analisa que a queda nas transações está longe de ser um fenômeno isolado.
“É importante lembrar que o mês de janeiro, tradicionalmente, apresenta uma queda no faturamento de diversos setores, o que acaba refletindo nas movimentações financeiras”, afirmou.
Ele também observa que os primeiros meses do ano são marcados por gastos extras dos consumidores, como pagamento de impostos, matrícula escolar e outras despesas relacionadas ao início do ano letivo, o que contribui para essa redução.
Deli também aponta que a desinformação, especialmente em torno das novas regulamentações da Receita Federal sobre o Pix, tem gerado receio entre os consumidores.
“Embora o governo tenha reiterado que o Pix não será taxado, a credibilidade do governo está abalada. Isso cria um ambiente propício para a disseminação de fake news, o que só agrava o medo da população”, explicou.
A falta de clareza sobre mudanças fiscais e o impacto das novas regras geram incertezas e contribuem para a desaceleração do uso do sistema de pagamentos.
Expectativas para o Pix
Apesar da queda no curto prazo, a perspectiva para os próximos meses é mais otimista. “A partir de fevereiro, com a normalização das contas pessoais e a circulação de informações mais claras sobre as regulamentações, a tendência é que o uso do Pix retome seu ritmo habitual”, afirma Deli.
Deli acredita que os consumidores voltarão a adotar o sistema de pagamentos, especialmente porque alternativas como DOC ou TED não oferecem benefícios adicionais em termos de monitoramento das movimentações financeiras.
O especialista também antecipa que uma nova onda de preocupações pode surgir no começo de 2026, quando os cidadãos começarem a se preparar para a declaração do Imposto de Renda, e os medos atuais sobre a regulamentação do Pix possam ser revividos.
Alternativas de pagamento durante a queda do Pix
A queda no uso do Pix não parece ter gerado uma migração significativa para outros meios de pagamento, como o cartão de crédito. Segundo Deli, muitos consumidores, especialmente os de menor renda, optaram por esperar para realizar suas compras.
“Não vejo uma migração expressiva para o cartão de crédito, pois grande parte da população mais vulnerável já tem o limite comprometido após as despesas de final de ano”, explicou.
Além disso, as opções de débito e saque continuam sendo utilizadas como alternativas, mas o especialista ressalta que essa é uma fase de “espera”, não necessariamente de mudança no comportamento de pagamento.
A movimentação do Pix continua a ser acompanhada de perto pelo Banco Central, que busca entender as variações sazonais e os fatores que influenciam a utilização do sistema.
A queda de 15,3% em janeiro de 2025, embora preocupante, reflete uma série de fatores econômicos e psicológicos, com uma expectativa de recuperação à medida que a economia se ajusta e as informações sobre o sistema se estabilizam.