As apostas de investidores locais a favor do real e contra o dólar no mercado de derivativos ultrapassaram US$ 10,196 bilhões no fechamento da sessão de quarta-feira (18), após as decisões sobre os juros do Brasil e EUA.
Segundo dados da B3, é a primeira vez que o otimismo dos investidores fica acima de US$ 10 bilhões desde abril.
Em meados de junho, durante um pessimismo forte com a moeda brasileira, essa posição chegou a US$ 3,5 bilhões, na mínima do ano.
Depois, ainda em junho, houve uma melhora leve até o nível de US$ 4 bilhões, patamar que se manteve até o começo de agosto. Desde então, a perspectiva quanto ao desempenho do real tem melhorado.
No caso do investidor estrangeiro, houve também uma melhora, com a aposta a favor do dólar contra o real em torno de US$ 70 bilhões no fim da sessão de ontem.
Também em junho, durante o mau humor com o câmbio doméstico, essa posição chegou a rondar os US$ 80 bilhões.
Na quarta-feira (18), o Fed (Federal Reserve) anunciou corte de 0,50 p.p nas taxas de juros dos EUA, enquanto a Selic seguiu no sentido contrário, com alta de 0,25p.p, para 10,75%.
Especialistas consultados pelo BP Money já haviam adiantado que o câmbio poderia se beneficiar com o aumento do diferencial de juros. Fabiano Zimmermann, head de renda fixa do ASA, afirmou que esse aumento entre Brasil e EUA sugeria um incremento no fluxo de investimentos estrangeiros aqui.
“Isso, é claro, com as demais variáveis de risco constantes, tal como o risco fiscal, ruídos de comunicação do BC e impactos provenientes da incerteza em relação à eleição norte-americana”, destacou Fabiano.
Selic: cenário é de expectativa de ‘descolamento da inflação’, diz analista
Como esperado pela maior parte do mercado, o BC (Banco Central) elevou a Selic (taxa básica de juros) em 0,25%. Segundo o mestre em economia Alexandre Dellamura, as “expectativas de descolamento da inflação da meta, o crescimento do déficit público e o real ainda depreciado foram decisivas para a elevação da taxa”.
O aumento da Selic ocorre em um momento em que a economia brasileira apresenta maior aquecimento do que o esperado, o que, segundo analistas, eleva a expectativa de aumento dos preços.
“O conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado. A inflação medida pelo IPCA cheia, assim como as medidas de inflação subjacente, situaram-se acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, afirmou o Copom (Comitê de Política Monetária) em nota.
Diante do cenário, analistas ouvidos pela BP Money apontaram que a possibilidade dessa tendência de elevação da Selic até o final do ano é muito grande.
“Um fator que está pesando bastante nessa trajetória é a desvalorização do real frente ao dólar”, disse Márcio Saito, CFO da Entrepay.
“Embora tenha sorte uma deflação em agosto, seu impacto foi praticamente nulo no cenário atual. O maior prejuízo, sem dúvida, recai sobre o setor produtivo”, completou Saito.